À primeira vista, tudo parecia perfeito naquela imensa mansão no bairro mais nobre de Belo Horizonte. Fachada imponente, colunas brancas impecáveis, janelas com cortinas finíssimas de linho egípcio. Mas atrás daquelas paredes luxuosas, duas crianças viviam um verdadeiro pesadelo – escondido de todos, inclusive do próprio pai.

Alice, de apenas 7 anos, e Lara, de 5, eram filhas de Hugo Montenegro, um empresário viúvo, rico e totalmente mergulhado em seu trabalho e na dor da perda da esposa Amanda. Desde a tragédia que abalou a família, Hugo se afastou das filhas emocionalmente. Tentando recomeçar a vida, se envolveu com Viviane, uma mulher bonita, elegante, ambiciosa – e cruel.

Viviane não gostava de crianças. Sua impaciência com as meninas cresceu a ponto de dispensar todas as babás contratadas, sempre sob a desculpa de incompetência. Quando a última foi mandada embora porque Alice vomitou em um tapete, Viviane tomou uma atitude impensável: trancou a geladeira da casa, controlou o acesso à comida e isolou as meninas no sótão da mansão. Sozinhas, frágeis e com fome.

Durante dias, Alice e Lara sobreviveram com restos de pão seco escondidos por dona Elsa, uma funcionária da limpeza que, com medo de perder o emprego, não podia fazer mais. Hugo, constantemente viajando, nunca percebia o que acontecia. Quando em casa, era manipulado por Viviane, que lhe dizia que as meninas estavam bem, que apenas precisavam de “mais disciplina”.

Até que numa manhã de sexta-feira, o destino daquelas crianças começou a mudar. Chegava à mansão Camila Duarte, uma pedagoga de 29 anos, desempregada havia meses. Por um descuido de Viviane, Camila foi contratada sem entrevista. E logo ao entrar, percebeu que algo estava muito errado.

Ao subir até o sótão, Camila encontrou uma cena devastadora: Lara estava febril, deitada no colo da irmã, ambas sujas, magras e famintas. Um pedaço de pão embolorado era tudo que havia no quarto escuro e abafado. “Vocês estão bem?”, perguntou, com a voz trêmula. “Você tem comida?”, foi a resposta que partiu seu coração.

Sem pensar duas vezes, Camila desceu até a cozinha e, mesmo sendo alertada por dona Elsa dos riscos de desobedecer Viviane, preparou uma refeição quente para as meninas. Elas comeram em silêncio, com lágrimas nos olhos. Naquela noite, Camila dormiu com elas, no chão do sótão.

No dia seguinte, Hugo voltou de viagem. Cansado, mal teve tempo de ouvir as palavras superficiais de Viviane antes de perguntar: “Onde estão as meninas?”. Ao perceber que algo não cheirava bem, decidiu subir, contra a vontade da noiva. O que encontrou no sótão o chocou: as filhas doentes, fracas, e uma mulher estranha – Camila – cuidando delas com o olhar de quem tinha amor de sobra.

Camila, firme, contou tudo. O isolamento, a fome, a febre de Lara, o desmaio de Alice, o terror imposto por Viviane. Hugo, atordoado, se ajoelhou diante das filhas. “Por que vocês não me disseram nada?” Alice respondeu com lágrimas nos olhos: “A tia Vivi disse que se a gente contasse, você ia mandar a gente embora também.”

A realidade finalmente o atingiu. Ele havia confiado nas palavras erradas e abandonado emocionalmente as pessoas mais importantes de sua vida. No mesmo dia, ordenou que Viviane deixasse a casa imediatamente. “Você será retirada desta casa ainda hoje”, disse, enquanto chamava a segurança. “Se tentar se aproximar de mim ou das minhas filhas, eu te processo por abuso, maus-tratos e cárcere privado.”

Viviane saiu humilhada. E a casa, aos poucos, voltou a ser um lar. Hugo e Camila levaram Lara ao hospital. Alimentaram as meninas, redecoraram seus quartos, encheram os corredores de risadas novamente. Camila virou mais do que uma babá — se tornou o coração da casa. Com sabedoria, empatia e firmeza, ela trouxe luz para onde antes só havia dor.

Com o tempo, Hugo e Camila se aproximaram. A admiração virou carinho. O carinho virou amor. Três meses depois, no jardim da mansão, ele segurou sua mão e fez o pedido: “Você aceita viver essa nova vida comigo? Como minha esposa?” Ela respondeu com um beijo e lágrimas nos olhos.

O casamento aconteceu no mesmo jardim, com Alice e Lara como daminhas, sorrindo como nunca. Dona Elsa chorava de alegria. Camila agora coordena uma ONG que ajuda crianças em situação de abandono. Alice quer ser escritora. Lara sonha em ser médica. E, todos os dias, quando chamam Camila de “mamãe”, seu coração se enche de gratidão.