A ausência de Neymar na lista de convocados da Seleção Brasileira para os próximos compromissos voltou a dominar o debate esportivo no país — e com razão. O atacante, maior nome do futebol brasileiro na última década, está em plena atividade no Al-Hilal, demonstrando sinais claros de recuperação após grave lesão. Ainda assim, ficou de fora da convocação de Carlo Ancelotti. E o que mais chamou atenção: nem o técnico, nem o próprio jogador parecem ter a mesma versão sobre o motivo.

Tudo começou na coletiva de imprensa após a convocação da seleção. Ancelotti, com sua conhecida diplomacia e frieza, deu respostas evasivas sobre a ausência de Neymar. Primeiro, disse que já conhecia bem o atleta e que queria testar outros nomes. Depois, afirmou que Neymar aparecia na lista prévia, mas foi cortado após avaliação final da comissão técnica que considerou que ele não estaria 100% fisicamente. Por fim, reforçou que, para vestir a camisa da seleção, o jogador precisa estar em plenas condições físicas.

O que parecia uma justificativa técnica e objetiva se tornou confuso e contraditório. E a bomba explodiu no último fim de semana, quando Neymar, ao ser questionado sobre o assunto após o empate entre Santos e Fluminense, foi direto: “Foi pura opção técnica. É a opinião do treinador, e eu respeito.”

A resposta fria e objetiva de Neymar destoou completamente do discurso anterior de Ancelotti. Nada de lesão. Nada de recuperação física incompleta. Segundo Neymar, foi simplesmente uma escolha técnica do treinador. E o que era um assunto interno da seleção, virou motivo de debate acalorado em todo o país.

Renato Gaúcho, técnico do Fluminense e conhecido por sua amizade com Neymar, fez questão de dar sua opinião publicamente. Após o jogo, postou uma foto da camisa que ganhou do jogador com a seguinte legenda: “Feliz em te ver jogando e bem. Fisicamente e tecnicamente você já está recuperado. Na minha opinião, já merecia ter sido convocado. O Brasil precisa de você.”

A manifestação de Renato não passou despercebida. Aliás, não foi isolada. Thiago Silva também comentou o caso, questionando se a decisão teria sido a mesma caso o técnico da seleção fosse brasileiro. O questionamento implícito é incômodo: há um distanciamento cultural entre Ancelotti e os ídolos brasileiros?

É inegável que a ausência de Neymar causa impacto. Mesmo longe do auge físico, sua presença ainda representa um diferencial técnico evidente. Se não está 100%, muitos argumentam que 80% de Neymar ainda é mais do que 100% de boa parte dos convocados.

Por outro lado, há quem veja com bons olhos a renovação promovida por Ancelotti. Para muitos torcedores e especialistas, a seleção precisa encontrar novas lideranças, novos caminhos, e não depender sempre dos mesmos nomes. Neymar, apesar do talento inquestionável, também carrega o peso de frustrações passadas com a camisa amarela.

Ainda assim, o que incomoda não é a ausência em si, mas a falta de clareza. O próprio ambiente dentro da seleção parece confuso. Nem mesmo os jornalistas especializados conseguiram entender com exatidão o real motivo do corte. Na coletiva, Ancelotti desconversou várias vezes, como quem sabe mais do que quer revelar. Agora, todos aguardam ansiosamente a entrevista coletiva do treinador nesta quarta-feira, na esperança de uma explicação definitiva — ou pelo menos mais honesta.

Essa situação já extrapolou os gramados e se tornou uma disputa narrativa. De um lado, Neymar e seus aliados tentando mostrar que ele está pronto e foi injustiçado. Do outro, Ancelotti mantendo um discurso técnico e cuidadoso, mas que vem sendo questionado pela incoerência entre palavras e fatos.

Enquanto isso, os torcedores assistem a mais um episódio dessa novela interminável da Seleção Brasileira, que parece cada vez mais perdida entre o passado glorioso e o futuro incerto.

Independentemente do lado que se tome, uma coisa é certa: a forma como tudo foi conduzido deixou marcas. E dependendo do desfecho desta história, pode definir não apenas o destino de Neymar na seleção, mas também o grau de confiança que o torcedor deposita em Ancelotti.

Resta saber quem conseguirá arrancar a verdade do treinador italiano — se é que ele está disposto a contar.