Durante anos, a imagem de Neymar foi moldada entre idolatria e rejeição, como se ele fosse obrigado a viver nas extremidades: ou gênio absoluto, ou vilão imperdoável. Mas, pela primeira vez em muito tempo, o atacante abriu espaço para mostrar algo que o público raramente vê — o lado humano. Em um momento raro de vulnerabilidade, ele admitiu que chegou ao limite emocional, revelando que precisou buscar ajuda psicológica para lidar com um ano que o levou “ao zero”.

Esse desabafo não surgiu no calor das críticas, nem como resposta a provocações externas. Pelo contrário, apareceu quando a temporada terminou e, com ela, a necessidade de se blindar diante de um campeonato em curso. Neymar confessou que a pressão acumulada, as lesões intermináveis e a sensação de impotência diante das derrotas pesaram mais do que ele conseguia suportar sozinho. Ele já havia feito terapia antes, mas nunca por estar emocionalmente despedaçado. Desta vez foi diferente: ele reconheceu que não tinha mais força para se reerguer.

A fala surpreende justamente porque quebra um padrão. Durante a carreira, Neymar foi constantemente criticado por parecer “protocolar”, sempre evitando expor fragilidades. Dentro de campo, muitos observavam mudanças comportamentais, explosões emocionais, gestos intempestivos — como no emblemático jogo contra o Flamengo — e apontavam isso como sinal de descontrole. Agora, ele próprio confirma aquilo que muitos intuíram: o emocional de fato balançou.

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E é impossível ignorar o contexto. Pela primeira vez, Neymar viveu uma temporada marcada pela sensação de derrota constante. Não derrota em clássicos gigantescos, como Barcelona e Real Madrid disputando liderança. Mas derrota do tipo que coloca um clube na beira do abismo, que transforma cada rodada em sobrevivência. É um tipo de pressão que não acompanha o glamour, e sim o medo. O Santos não vivia uma boa fase, e, mesmo com o craque em campo, o time lutava contra o rebaixamento. Para alguém acostumado a vencer, a situação se torna sufocante.

Some a isso o fato de ter passado o ano inteiro sem conseguir jogar. Para um atleta, isso é devastador. O jogador escolhe essa carreira pelo contato com a bola, pelo jogo, pela competição. Quando a rotina se torna fisioterapia, sessões intermináveis de recuperação e a sensação de que o corpo não responde mais, o brilho da profissão se apaga. Muitos atletas já se aposentaram por não suportar mais essa rotina de dor, tratamento e incerteza.

Ainda assim, quando o Santos mais precisou, Neymar voltou. Voltou mesmo sem estar totalmente recuperado. Voltou ciente do risco. Voltou sabendo que, se o time caísse, muita gente apontaria para ele — jogando ou não. Ele escolheu encarar. E nos jogos finais, foi decisivo. Trouxe tranquilidade, assumiu responsabilidade e entregou desempenho. Sua presença não apagou os erros de gestão do clube durante o ano, mas mostrou que havia em campo alguém disposto a se sacrificar por amor à camisa.

Essa atitude desmonta uma das críticas mais frequentes: a ideia de que Neymar não se cuida ou não se dedica. Quem convive com o jogador sabe que isso nunca foi verdade. As lesões fazem parte da sua história, mas esforço e comprometimento nunca faltaram. Dessa vez, ficou evidente: ele colocou o próprio corpo à prova para ajudar o clube que o revelou.

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Sua honestidade sobre a saúde mental também escancara algo que há muito precisava vir à tona no futebol. Num ambiente em que o jogador é idolatrado hoje e massacrado amanhã, onde cada erro vira meme e cada acerto se transforma em idolatria instantânea, não há mente que aguente incólume. A pressão de lidar com milhões de opiniões, de viver sob julgamento constante e de existir em uma sociedade que transforma tudo em arena política — inclusive o próprio Neymar — é gigantesca.

Hoje, qualquer jovem atleta que sonha em ser profissional precisa entender que o futebol mudou. Já não basta treinar e jogar bem. É preciso lidar com a enxurrada de críticas, com redes sociais que amplificam tudo, com uma torcida que ora abraça, ora destrói. Jogadores vivem com o celular na mão, consumindo opiniões que vão do amor cego ao ódio gratuito. A saúde mental virou parte essencial da formação esportiva.

A verdade é que muitos atletas estão “bugando”, como disse um dos comentaristas. Estão entrando em campo carregando não apenas expectativas, mas fardos emocionais pesadíssimos. E quando um jogador do tamanho de Neymar fala abertamente sobre isso, envia um recado para milhões de pessoas que vivem suas próprias batalhas silenciosas.

No fim, apesar do caos da temporada, Neymar termina o ano com algo que poucos imaginavam: uma imagem fortalecida. Mostrou comprometimento, entrega, vulnerabilidade e verdade. E talvez, pela primeira vez em muito tempo, conseguiu sair de cena com a sensação de dever cumprido.

A temporada não foi perfeita. Ele não esteve saudável como gostaria. Os riscos assumidos podem custar caro no futuro. Mas sua postura — dentro e fora de campo — reaproximou parte da torcida e revelou um Neymar mais humano, mais maduro e mais consciente do mundo que o cerca.

Ao final, fica claro: sua volta fez diferença. Seu desabafo fez diferença. E sua coragem de mostrar fragilidade talvez seja o maior gol da temporada.