Era para ser apenas um encontro às cegas, marcado por um aplicativo e uma promessa tímida de conhecer alguém novo. Para Diego Costa, empresário bem-sucedido de 32 anos, dono de uma das maiores construtoras do estado, aquilo não passava de mais uma tentativa em meio a uma agenda lotada. Ele era um homem prático, direto e avesso a surpresas – principalmente atrasos. Mas naquela noite no restaurante Bela Vista, a vida decidiu tirar os seus planos dos trilhos.

Às 19h15, 15 minutos após o horário marcado, Diego olhava para o relógio pela terceira vez, o café esfriando à sua frente. Impaciente, já considerava ir embora. Até que uma voz infantil cortou o ar:

— Senhor Diego?

Surpreso, olhou para baixo e viu uma menininha de cerca de quatro anos, cabelos loiros cacheados e uma boneca de pano nos braços.

— Minha mamãe pediu desculpas pelo atraso — disse ela, com a seriedade de quem sabe que carrega uma missão importante.

E foi assim que Alice entrou na vida de Diego.

A menina explicou, com a sinceridade brutal que só crianças têm, que a mãe, Carolina, estava atrasada porque precisou cuidar da avó Marina, que estava muito doente. E que ela, Alice, havia sido deixada ali pelo “tio Marcos”, já que a mãe não queria desmarcar mais um encontro.

Diego ouviu tudo, perplexo. Carolina nunca mencionou ter uma filha nas conversas pelo aplicativo. Nem que cuidava da mãe doente. Mas ali estava aquela criança doce, explicando tudo com calma, como se fosse a coisa mais normal do mundo. E quanto mais falava, mais Diego se via envolvido. Era impossível ignorar a honestidade daquelas palavras.

— Minha mamãe fica triste quando não pode sair. Porque ela quer muito namorar. Mas a vovó Marina sempre fica dodói, e ela precisa escolher.

Foi impossível para Diego não se emocionar. Ali estava uma mulher que ele mal conhecia, mas que claramente enfrentava uma realidade muito mais dura do que qualquer um podia imaginar: mãe solo, cuidadora de uma idosa com Alzheimer e ainda tentando manter uma carreira como arquiteta freelancer. Tudo isso, enquanto criava uma filha que era, claramente, o reflexo de amor e cuidado.

Quando Carolina finalmente chegou ao restaurante, correndo e visivelmente nervosa, encontrou sua filha sentada calmamente ao lado de Diego. Em vez da reação de irritação que ela esperava, ele apenas sorriu e ofereceu sua cadeira.

— Está tudo bem. Alice me explicou tudo.

Ao ouvir isso, Carolina quase chorou. Ninguém nunca reagia assim. Todos os outros encontros que tentara acabaram do mesmo jeito: com decepção e julgamento. Mas Diego não era como os outros.

Durante o jantar, ele ouviu mais do que falou. Descobriu que Carolina dormia em média três horas por noite, cuidava da mãe sozinha, não podia pagar uma cuidadora e trabalhava quando podia. Que nunca saía para comer fora, que sua última saída havia sido no próprio aniversário – há quatro meses. Que já havia sido abandonada pelo pai de Alice e por todos os homens que não quiseram “complicações”.

Mas Diego via algo completamente diferente: uma mulher forte, dedicada, cheia de amor para dar – e que nunca havia sido verdadeiramente valorizada.

— Vocês merecem alguém que entenda que família não é peso. É presente — disse ele, com sinceridade nos olhos.

Quando propôs conhecer Marina no dia seguinte, Carolina não acreditou. Nunca ninguém quis conhecer sua mãe. Sempre a viram como um problema. Mas Diego insistiu.

Na manhã seguinte, cancelou reuniões, contratos e compromissos com investidores. Mandou sua assistente encontrar flores e um CD de Chopin. Queria causar uma boa impressão. Mas mais que isso: queria demonstrar que se importava.

Chegando ao pequeno apartamento onde Carolina vivia, foi recebido com sorrisos, brinquedos no canto da sala e cheiro de lar. Alice o puxou pela mão até a sala para apresentar sua avó.

Marina estava em um bom dia. Sorridente, ainda que um pouco confusa. Diego entregou as flores e colocou a música para tocar. Chopin preencheu o ambiente com uma leveza quase mágica. Por alguns instantes, tudo pareceu calmo. Humano.

Conversaram, riram, compartilharam memórias. Marina contou histórias antigas entre momentos de lucidez e confusão. Carolina observava tudo com um misto de espanto e emoção.

— Ninguém nunca fez isso por nós — disse ela em voz baixa.

A visita se estendeu. Alice brincava, Marina cochilava, e Carolina finalmente parecia respirar aliviada. Em meio a tanta luta, alguém havia decidido não fugir. Havia ficado. Havia escutado. Havia se importado.

Diego, que antes vivia cercado de cifras, contratos e compromissos, encontrou em Carolina e Alice algo que há muito havia esquecido: propósito.

Na despedida, quando Carolina perguntou por que ele estava fazendo tudo aquilo, a resposta foi simples:

— Porque em poucas horas vocês me ensinaram mais sobre amor, coragem e o que realmente importa na vida do que anos de relacionamentos vazios. E eu quero fazer parte disso.

E assim, o que começou como um encontro comum se transformou em algo extraordinário. Não apenas um encontro de duas pessoas, mas o início de uma história de reconstrução. De cura. De recomeço.

Alice, a menininha que chegou com uma boneca nos braços e uma missão no coração, tinha razão desde o início:

— Eu sabia que vocês iam gostar um do outro.

E naquele momento, Diego teve certeza de uma coisa: queria ser exatamente o tipo de homem que Alice acreditava que ele podia ser.