QUEM É BELÃO DO QUITUNGO, O CHEFE DO CV PRESO NA PENHA

A OPERAÇÃO CONTENÇÃO E O FIM DE UMA ERA NA PENHA
A Operação Contenção, deflagrada pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, deixou um rastro de mortes, prisões e mudanças no mapa do crime da capital fluminense. Entre os principais alvos da megaoperação, que terminou com mais de 120 mortos e dezenas de prisões, está Thiago Nascimento Mendes, conhecido no submundo do Comando Vermelho (CV) como Belão do Quitungo.
A prisão de Belão representa um duro golpe na hierarquia intermediária do CV, especialmente no Complexo da Penha, onde ele exercia papel de liderança estratégica.

O CHEFE DO QUITUNGO E BRAÇO DIREITO DO DOCA
Belão era reconhecido como o chefe do morro do Quitungo, comunidade localizada no Complexo da Penha, e apontado como homem de confiança de Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, considerado um dos principais líderes do Comando Vermelho.
Segundo as investigações, ele atuava como uma espécie de “gerente logístico” da facção, responsável por controlar a distribuição de armas entre os grupos que dominam as favelas da Penha e do Alemão. Seu trabalho incluía decidir quais armas iriam para cada ponto, garantindo que os chefes e seguranças tivessem acesso aos fuzis mais potentes.

A CAPTURA DE BELÃO
Belão foi preso no dia 28 de outubro de 2025, em uma casa na favela da Chatuba, onde estava escondido. A ação foi resultado de uma investigação que durou meses e contou com o apoio de informações de inteligência.
Contra ele, pesavam seis mandados de prisão, incluindo acusações de tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e porte ilegal de armamento de uso restrito. Durante sua captura, não houve confronto, e Belão foi levado sob forte escolta para uma unidade de segurança máxima.

UM NOME QUE JÁ ESTAVA NO RADAR DA POLÍCIA
Antes da prisão, Belão já havia sido alvo de outras operações. Em julho de 2024, ele trocou tiros com policiais na rua Guaporé, mas conseguiu escapar do cerco. Desde então, era considerado foragido de alta periculosidade.
Fontes policiais afirmam que ele participava de reuniões estratégicas do CV, coordenando ações conjuntas entre líderes de várias comunidades e supervisionando a movimentação de armas e drogas entre diferentes territórios.

O CONTROLE DA LOGÍSTICA DE ARMAS
Um dos papéis mais importantes de Belão dentro do CV era gerenciar o fluxo de armamentos.
Quando novos carregamentos chegavam ao chamado “QG das armas”, cabia a ele decidir a distribuição conforme a necessidade de cada grupo:

Soldados de base recebiam pistolas;
Seguranças de chefes recebiam fuzis de maior calibre;
Operadores de contenção ficavam com armamentos intermediários.

Essa organização tornava o CV altamente estruturado e capaz de reagir rapidamente a operações policiais.

CONFLITO COM O TERCEIRO COMANDO PURO (TCP)
Belão também tinha a missão de defender o território do Quitungo contra tentativas de invasão do Terceiro Comando Puro (TCP).
A disputa entre as duas facções é antiga e violenta, e o Quitungo é considerado estratégico por ser um ponto de ligação entre áreas controladas pelo CV. O rival conhecido como Peixão, do TCP, estaria tentando expandir o domínio sobre a região, o que aumentou a tensão nos meses que antecederam a operação.

O CASO QUE CHOCOU AS REDES SOCIAIS
Belão ganhou notoriedade em 2024, quando um vídeo viralizou nas redes sociais mostrando uma mãe desesperada pedindo para que ele libertasse seu filho de 16 anos.
No vídeo, a mulher implorava de joelhos:

“Pelo amor de Deus, entrega meu filho. Ele tem só 16 anos, é uma criança. Se ele errou, me devolve o corpo pelo menos.”
Segundo fontes policiais, o caso foi real e serviu como alerta sobre a influência e o poder de medo que Belão exercia na comunidade.

O “SÍNDICO” DO CRIME
Além do tráfico e da logística de armas, Belão controlava ilegalmente um prédio de 24 apartamentos na Penha.
Moradores eram obrigados a pagar R$ 700 por mês em “aluguel” para o chefe, e o dinheiro arrecadado — estimado em R$ 17 mil mensais — era usado para financiar o crime organizado e ajudar em pequenas ações dentro da comunidade, como festas e doações pontuais.
Esse domínio reforçava o poder econômico da facção e consolidava Belão como uma figura de autoridade local.

O BRAÇO DIREITO E O OPERADOR FINANCEIRO
Na mesma operação que prendeu Belão, a polícia também capturou Nicolas Fernandes Soares, conhecido como Hurley, apontado como operador financeiro de Doca.
Hurley seria responsável por recolher o dinheiro das “bocas” e garantir que as receitas chegassem aos cofres centrais do CV. Ele também respondia por tráfico e porte ilegal de armas.

A HIERARQUIA DO COMANDO VERMELHO
Apesar de ser influente, Belão não fazia parte da alta cúpula do CV, mas era um chefe regional com poder operacional.
No topo da hierarquia estão nomes como Doca e Pezão, que controlam os recursos e as estratégias de toda a organização. Abaixo deles, figuras como Belão e Hurley garantem o funcionamento da base e o cumprimento das ordens no dia a dia das comunidades.

UMA PRISÃO SIMBÓLICA
A captura de Belão tem grande peso simbólico e estratégico para as forças de segurança.
Ela mostra que o Estado começa a atingir níveis intermediários da estrutura do crime, o que pode dificultar a logística do tráfico e enfraquecer o domínio do CV na região.
Ainda assim, especialistas alertam que outros nomes podem ocupar rapidamente o vácuo deixado por essas prisões, mantendo o ciclo de violência.

O FUTURO DE BELÃO E AS INVESTIGAÇÕES
Belão e Hurley foram encaminhados a presídios federais de segurança máxima, onde aguardam julgamento.
A Polícia Civil segue investigando a extensão da rede de influência de ambos e busca rastrear lavagem de dinheiro e conexões interestaduais ligadas ao Comando Vermelho.

CONCLUSÃO
A história de Belão do Quitungo é o retrato de como o crime organizado opera com estrutura empresarial, hierarquia rígida e presença enraizada nas comunidades.
A Operação Contenção pode ter encerrado um capítulo importante, mas revela também o desafio contínuo da segurança pública no Rio de Janeiro: combater o crime sem deixar um vazio que logo será preenchido por outros líderes.