“Um adolescente cheio de sonhos, uma cidade em alerta e um desaparecimento que até hoje ecoa como um mistério sem respostas. O que aconteceu com Diego Fernandes Lima naquela tarde fria de julho de 1984?”

Buenos Aires, 1984. Em plena capital argentina, um bairro tranquilo chamado Vila Urquiza abrigava a família Fernandes Lima, composta por Juan Benigno, sua esposa Ilma (ou Bernabela, segundo algumas fontes) e os três filhos: Diego, o primogênito de 16 anos; Javier, o irmão mais novo; e Marcela, a caçula. A rotina era simples, marcada pelo trabalho dos pais, pelo convívio familiar e pelos sonhos juvenis de Diego, um jovem apaixonado por futebol que carregava a esperança de se tornar jogador profissional.

Diego não era apenas mais um adolescente entre tantos da época. Ele fazia parte da equipe de base do Clube Atlético Excursionistas, onde era considerado uma peça importante. Sua habilidade com a bola, aliada à dedicação, fazia com que muitos acreditassem que ele tinha futuro nos gramados. Paralelamente, ele estudava na Escola Nacional de Educação Técnica, uma instituição que oferecia ensino técnico e profissionalizante – um caminho que lhe garantia opções de futuro, caso o futebol não desse certo.

Na quinta-feira, 26 de julho de 1984, a rotina de Diego parecia seguir seu curso normal. Ele retornou da escola por volta do meio-dia, fez um rápido passeio de moto – sua grande paixão – e almoçou com a mãe. Durante a refeição, pediu um pouco de dinheiro para a passagem de ônibus. Por volta das 14 horas, informou que iria à casa de um amigo, sem especificar o nome, e depois seguiria para a oficina da escola técnica. Vestia botas marrons, calça jeans, camisa e a gravata da escola. Saiu de casa despreocupado, comendo uma tangerina, sem imaginar que aquela seria a última vez que sua família o veria.

As horas avançaram. Quando a noite caiu e Diego não retornou, a inquietação dos pais transformou-se em angústia. Por volta das 20h30, Juan e Ilma saíram pelas ruas do bairro em busca do filho. Bateram em portas de vizinhos, ligaram para amigos e colegas de futebol, mas ninguém sabia de seu paradeiro. Em meio à procura, descobriram que Diego não havia comparecido à escola técnica, contrariando o que havia dito antes de sair. A preocupação se intensificou.

Na esperança de obter ajuda, a família dirigiu-se à Polícia Federal Argentina para registrar o desaparecimento. A recepção, porém, foi fria e desanimadora. O policial de plantão minimizou a situação, sugerindo que o jovem provavelmente estava na casa de uma namorada ou havia saído para se divertir. A autoridade assegurou que Diego voltaria em breve, como se o caso não merecesse investigação. A frustração dos pais foi imediata. Eles esperavam que as buscas começassem naquela mesma noite, mas saíram da delegacia de mãos vazias, sem sequer um boletim formal de ocorrência.

O tempo passou, e a ausência de Diego se prolongou. Naquele ano, sem celulares, computadores ou redes sociais, cada dia sem notícias era um tormento. A família espalhou cartazes, recorreu a jornais e rádios locais, mas as respostas não vinham. Um conhecido chegou a relatar que teria visto Diego próximo à Avenida Monroe com a Avenida Naón, na divisa entre os bairros Vila Urquiza, Belgrano e Coghlan, mas a pista não levou a lugar algum.

A negligência policial tornou-se um dos aspectos mais revoltantes da história. Mesmo sabendo que Diego era um jovem responsável, sem histórico de fugas ou comportamentos de risco, as autoridades trataram o caso como uma simples rebeldia adolescente. Essa omissão fez com que os primeiros dias – cruciais para qualquer investigação – fossem perdidos.

Enquanto a polícia ignorava o desaparecimento, a família mergulhava em um pesadelo. Juan e Ilma percorriam Buenos Aires em busca de informações, batendo de porta em porta, implorando por qualquer pista. Javier, o irmão mais novo, anos depois lembraria da dor que pairava sobre a casa: a sensação de impotência, a ausência de respostas e a rotina interrompida por uma ausência que jamais se preencheu.

Com o passar das semanas, os jornais começaram a dar espaço ao caso, mas sem que novas informações surgissem. Alguns moradores diziam ter visto um jovem parecido com Diego em bairros vizinhos, outros acreditavam em um possível sequestro. Havia também rumores de que ele poderia ter sido vítima de uma rede criminosa. Nenhuma dessas hipóteses, porém, foi confirmada.

A falta de provas concretas e a relutância da polícia em agir transformaram o caso em um mistério paralisante. Para a família Fernandes Lima, restava apenas a busca incessante. Ilma, em particular, tornou-se um símbolo de resistência: visitava jornais, rádios, hospitais e até necrotérios, em uma tentativa desesperada de encontrar o filho. Cada telefonema, cada batida na porta era uma faísca de esperança – e, ao mesmo tempo, um novo golpe quando a resposta era negativa.

Décadas se passaram, e o desaparecimento de Diego Fernandes Lima permanece sem solução. Nenhum corpo foi encontrado, nenhum suspeito foi oficialmente investigado. O caso, que começou como mais um registro de um adolescente “provavelmente fugido”, tornou-se um dos enigmas mais dolorosos da capital argentina. Para os pais, a ferida nunca cicatrizou.

Hoje, a história de Diego é relembrada não apenas como um desaparecimento, mas como um alerta sobre a negligência policial e a importância dos primeiros momentos em uma investigação. Em uma época sem tecnologia, a falta de ação das autoridades custou pistas que poderiam ter mudado o rumo da história.

Para Javier e Marcela, irmãos que cresceram sob a sombra da ausência, Diego permanece vivo na memória: o irmão sorridente, o jogador talentoso, o adolescente que sonhava com campos de futebol e vitórias. Para Juan e Ilma, que lutaram até os últimos dias em busca da verdade, ele sempre será o filho amado que saiu de casa com uma tangerina na mão e nunca mais voltou.