“Uma fazenda isolada, uma mãe dominadora e um filho solitário: a vida de Ed Gein revela como o silêncio pode esconder horrores inimagináveis.”

No interior gelado de Wisconsin, em uma pequena comunidade chamada Plainfield, a história de Edward Theodore Gein se desenrola como um pesadelo que parece saído das páginas mais sombrias da literatura criminal. Para os vizinhos, Ed era apenas um homem simples, um faz-tudo de voz suave que ajudava nas tarefas da vizinhança e fazia truques de mágica para crianças. Mas por trás do sorriso tímido e do jeito dócil, escondia-se um dos criminosos mais macabros da história americana.

Tudo começa muito antes dos crimes virem à tona, com a infância de Ed marcada por tragédias e por uma educação severa. Seu pai, George, era um homem atormentado pelo alcoolismo e pela raiva. Órfão desde os 13 anos, cresceu ressentido e amargo, incapaz de manter empregos e com uma visão de mundo distorcida. Casou-se com Augusta, uma mulher profundamente religiosa, quase fanática, que acreditava que o pecado espreitava em todos os lugares. Augusta via as mulheres da cidade como criaturas corrompidas e ensinava os filhos a temer e odiar qualquer influência do “mundo exterior”.

Ed nasceu em 1906, o segundo filho de Augusta e George. Desde cedo, tornou-se o alvo da devoção sufocante da mãe. Augusta não apenas controlava cada aspecto da vida dos filhos, mas também alimentava neles o medo de qualquer contato com pessoas de fora, especialmente mulheres. Para ela, o sexo era algo pecaminoso, e o amor romântico, uma armadilha do diabo. Ed cresceu acreditando que só sua mãe poderia protegê-lo da maldade do mundo. Cada tentativa de amizade era rapidamente destruída por Augusta, que encontrava defeitos em todos e convencia o menino a cortar laços antes mesmo que eles se formassem.

Na escola, Ed era um garoto estranho. Tinha dificuldade para fazer amigos, ria em momentos inapropriados e chorava com facilidade quando era provocado. Seus gestos delicados e voz suave chamavam atenção, e seu hábito de observar as garotas por tempo demais deixava os colegas desconfortáveis. Apesar disso, era um bom aluno, com ótimo desempenho em leitura e grande interesse por revistas de crimes e histórias de terror. Enquanto por fora parecia apenas um jovem tímido, por dentro alimentava fantasias perturbadoras que ninguém podia imaginar.

A vida na fazenda da família, comprada por Augusta em 1914, era de isolamento quase absoluto. A casa, sem eletricidade nem encanamento, ficava a quilômetros da cidade mais próxima. Augusta acreditava que a distância os protegeria das “más influências”, mas o isolamento apenas aprofundou a solidão de Ed e de seu irmão mais velho, Henry. O pai, cada vez mais debilitado pelo álcool, pouco ajudava nos trabalhos, deixando à mãe e aos filhos a responsabilidade de sustentar a propriedade.

Quando Ed tinha 34 anos, a sequência de tragédias que moldaria seu destino começou a se intensificar. Em 1940, seu pai morreu, finalmente libertando a família do peso de sua presença violenta. Em 1944, Henry morreu em circunstâncias misteriosas durante um incêndio em um pântano próximo à fazenda. Embora o corpo tenha sido encontrado com hematomas na cabeça, as autoridades concluíram que a causa foi asfixia, sem investigar mais a fundo. O detalhe mais perturbador era que Ed, que afirmava não saber onde o irmão estava, levou os socorristas diretamente ao corpo, como se tivesse uma estranha certeza de seu paradeiro.

Após a morte do pai e do irmão, Augusta ficou gravemente doente e sofreu dois derrames. Ed passou a dedicar-se inteiramente a ela, cuidando da mãe com devoção quase fanática. Para ele, esse era o momento de provar seu valor, de mostrar que merecia ser o único a compartilhar a vida dela. Quando Augusta morreu em 29 de dezembro de 1945, Ed ficou completamente sozinho. Chorou como uma criança ao perder a única pessoa que amava e temia em igual medida. Sem a figura materna que controlava cada passo de sua vida, Ed mergulhou em um isolamento ainda mais profundo.

A fazenda, antes mantida com disciplina por Augusta, começou a se deteriorar. Ed deixou os equipamentos enferrujarem e os campos se tornarem mato. Sobreviveu arrendando pedaços de terra e fazendo pequenos trabalhos para vizinhos. À primeira vista, parecia apenas um solteirão excêntrico e inofensivo, mas suas manias começaram a chamar atenção. Ele preferia comer sozinho, evitava contato físico, falava de crimes com fascinação quase infantil e demonstrava um interesse peculiar por cadáveres e por histórias de assassinato.

Foi nesse período que Ed passou a frequentar com mais assiduidade uma taverna administrada por Mary Hogan, uma mulher extrovertida que contrastava com sua timidez. Mary desapareceu misteriosamente em 1954, deixando apenas um rastro de sangue. A polícia não encontrou suspeitos, e o caso esfriou. Anos depois, os investigadores descobririam que Mary havia sido uma das vítimas de Ed.

Em 1957, outro desaparecimento chocou Plainfield: Bernice Worden, proprietária da loja de ferragens local, sumiu em pleno dia. O livro de vendas indicava que Ed havia sido o último cliente. Quando a polícia foi à fazenda dos Gein, encontrou um cenário que parecia ter saído de um filme de horror. Dentro da casa em ruínas, descobriram cabeças humanas empalhadas, máscaras feitas de pele, tigelas confeccionadas com crânios e móveis cobertos por pedaços de corpo. No celeiro, estava o corpo de Bernice, decapitado e pendurado de cabeça para baixo como um animal abatido.

As investigações revelaram que Ed havia passado anos violando túmulos no cemitério local, desenterrando corpos de mulheres que lembravam sua mãe. Ele usava partes dos cadáveres para criar roupas e objetos, numa tentativa grotesca de “reconstruir” Augusta. Quando interrogado, Ed confessou seus crimes com a mesma calma com que falava de consertar uma cerca, descrevendo seus atos como se fossem simples tarefas do dia a dia.

Declarado mentalmente incapaz, Ed Gein foi internado em instituições psiquiátricas, onde viveu até sua morte em 1984. Sua história inspirou personagens icônicos do terror, como Norman Bates, de Psicose, e Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica. Mas, mais do que uma simples narrativa de crimes hediondos, a vida de Ed Gein é um retrato perturbador do poder do isolamento, do fanatismo e da obsessão materna.

Por trás da aparência de um homem tímido e solitário, escondia-se um dos capítulos mais sombrios da história criminal americana – um lembrete de que, às vezes, os maiores monstros vivem onde menos esperamos: na casa ao lado, atrás de um sorriso educado e de uma voz suave.