Por muitos anos, a separação de Zezé Di Camargo e Zilu Godói foi um daqueles assuntos que o Brasil inteiro acompanhou como se fosse um drama em capítulos intermináveis. Manchetes, entrevistas, especulações, acusações e uma exposição pública que, além de destruir um casamento, deixou cicatrizes profundas na família. Para o público, era entretenimento. Para os filhos, era vida real. E, para Wanessa Camargo, foi uma ferida que demorou décadas para cicatrizar — isso, é claro, se algum dia cicatrizar de verdade.

Agora, em um raro momento de vulnerabilidade durante uma conversa franca no podcast de Dudu Braga, filho de Marília Gabriela, Wanessa decidiu abrir o coração e revisitar esse passado turbulento. Sem florear, sem esconder, sem suavizar. O que ela disse ali — sobre traição, sobre dor, sobre família e sobre perdão — reacendeu uma história que muitos achavam enterrada, provocou debates intensos nas redes sociais e expôs um lado da cantora que poucas pessoas conheciam de verdade.

Logo no início da entrevista, Wanessa deixou claro que não estava ali para defender nem acusar ninguém. Ela estava ali para contar o que viveu. E o que viveu não foi leve. Crescer em um lar famoso, enquanto a imprensa escancarava tudo que acontecia dentro dele, não é simples para ninguém, muito menos para uma adolescente que só queria que a família continuasse unida.

A separação dos pais, que ganhou destaque nacional na época, foi um choque não só para o público, mas para os próprios filhos. Wanessa relembrou como acompanhou tudo de fora e de dentro ao mesmo tempo. De fora, porque todo mundo sabia antes mesmo de eles confirmarem. De dentro, porque ela sentia, com força total, o impacto emocional da descoberta que abalou a estrutura da própria casa: Zezé mantinha um relacionamento há quase nove anos com Graciele Lacerda enquanto ainda era casado com Zilu.

Para os fãs, foi escândalo. Para ela, foi devastação.

Ao falar sobre isso, Wanessa não mudou o tom, mas mudou o olhar. Havia ali uma mistura de maturidade, dor antiga e, acima de tudo, resignação. Ela contou como foi descobrir que o romance extraconjugal não era rumor, não era invenção da imprensa, não era suspeita. Era verdade. Uma verdade que se tornou pública e rasgou a família.

Mas, enquanto muitos esperavam uma fala repleta de ressentimentos ou indiretas, a cantora surpreendeu. Ela disse que não julga mais o pai. Não porque esqueceu ou porque concorda, mas porque aprendeu que a relação dos pais era deles — e não dela. Com o tempo, com terapia e com os tropeços da própria vida, entendeu que não cabe a ela medir a infelicidade ou a felicidade de ninguém. Nem do pai. Nem da mãe.

A frase que se espalhou pelas redes foi direta, dura e ao mesmo tempo libertadora: “Não cabe a mim julgar meu pai.”

Mas não foi isso que mais sacudiu a internet. O que realmente pegou os fãs de surpresa foi a revelação de que a primeira pessoa a aceitar Graciele Lacerda não foi Wanessa — como muitos acreditavam — mas o irmão Igor. Essa informação desmontou uma narrativa antiga, repetida inúmeras vezes, de que Wanessa teria sido a mais compreensiva desde o início.

Ela mesma fez questão de desmentir: “Não fui eu quem aceitou primeiro. Foi o Igor.”
E então completou que, para ela, o processo foi duro, lento e cercado de mágoas, principalmente porque tinha diante dos olhos a dor evidente da mãe.

Foi nesse ponto da entrevista que o clima mudou. A voz de Wanessa ficou mais baixa, o ritmo ficou mais cadenciado e a emoção transpareceu sem esforço. Ela explicou que, mais do que a traição, mais do que a exposição, mais do que os conflitos, o que mais a machucou foi a divisão. A constante obrigação de escolher um lado. Como se amar um significasse abandonar o outro.

“É como abrir mão de uma parte de mim”, desabafou.

Essa frase tocou fundo. Porque, apesar de toda a fama envolvida e de todo o espetáculo público, no fim das contas, a situação é a mesma vivida por milhares de filhos de pais separados. A diferença é que, no caso de Wanessa, tudo sempre aconteceu diante das câmeras, dos comentários, dos julgamentos e da pressão de um país inteiro, que se sentia no direito de opinar.

A entrevista caminhou para outro ponto — o do aprendizado. Ela contou que o tempo fez o que ninguém mais podia fazer. Trouxe clareza. Trouxe compreensão. Trouxe paz suficiente para olhar para o passado sem tanto peso e para o futuro sem tanta raiva. A separação dos próprios pais, somada à dela mesma anos depois, ensinou algo essencial: o perdão começa quando se entende que a felicidade não depende do outro.

Wanessa também deixou claro que não pretende reescrever a história nem justificar comportamentos. Apenas aprendeu a lidar com eles. E, principalmente, aprendeu a soltar aquilo que não era dela para carregar. Segundo ela, o amor pelos pais é maior do que qualquer briga, qualquer traição, qualquer narrativa criada fora da família.

Ao final do episódio, ficou evidente que, embora o público tenha óbvias opiniões sobre tudo, só quem viveu sabe o tamanho real da dor. Wanessa não buscou aplausos, nem admiração, nem polêmica. Buscou apenas dizer sua verdade — uma verdade que ela mesma levou anos para conseguir verbalizar.

A repercussão, no entanto, mostrou que esse assunto continua vivo no imaginário do público. Nas redes sociais, fãs se dividiram entre quem defende Zilu, quem defende Zezé, quem critica Graciele, quem acusa a imprensa, quem culpa a família. Mas Wanessa não entrou em nenhuma dessas brigas. Ela se retirou delas.

Seu objetivo agora é seguir em frente sem carregar pesos que não são seus. O passado existiu, doeu e marcou, mas não dita mais as regras do presente.

Ainda assim, para quem acompanhou a história desde o começo, a entrevista foi como abrir uma janela para um quarto fechado há muito tempo. O ar entrou. A luz entrou. Mas, junto com isso, veio a percepção de que algumas memórias continuam sensíveis, e que, apesar dos anos, algumas feridas ainda ardem quando tocadas.

Nada do que Wanessa disse é simples. Nada é leve. Nada é pequeno. Mas tudo é humano. E talvez seja por isso que o público se conectou tanto: porque, no fundo, essa é uma história sobre erros, sobre dor, sobre escolhas difíceis — mas, acima de tudo, sobre a coragem de parar de apontar dedos e começar a se reconstruir de dentro para fora.

O passado continua lá. O que muda agora é a forma de olhar para ele. E, pela primeira vez, Wanessa parece finalmente pronta para olhar sem medo.