A neve caía suavemente, como se o céu estivesse derramando suas próprias lágrimas. No meio do parque iluminado pelas luzes de Natal, um homem solitário estava sentado em um banco desgastado, parecendo a alma mais solitária do mundo. Seu nome era Adrien Cole, um jovem CEO conhecido por sua mente afiada e sua eficiência implacável. Mas naquela noite, nada sobre ele refletia poder ou sucesso. Seus ombros estavam tensos, seus olhos vermelhos, e sua respiração, instável.

O mundo o via como inabalável, mas na véspera de Natal, Adrien parecia quebrado, esquecido, uma pessoa marcada pela dor e pela solidão. Enquanto a cidade ao seu redor brilhava com esperança e alegria, ele se sentia como se seu próprio mundo tivesse se apagado. O lamento da perda o consumia. Seu pensamento era simples: se ele desaparecesse na neve, seria notado?

Há um ano, naquela mesma noite, ele havia perdido a pessoa mais importante de sua vida: sua mãe. Ela fora a única que, com seu amor, o lembrava de que a vida não era só sobre sucesso, mas sobre vínculos humanos, sobre amor. Ela o tinha instado a desacelerar, a cuidar de si mesmo, a aprender a deixar as pessoas se aproximarem. Mas ele ignorou essas palavras e se afundou no trabalho, endurecendo seu coração e afastando qualquer um que tentasse se aproximar. Agora, apesar das conquistas e de um império de sucesso, ele se sentia vazio. Sua empresa prosperava, mas ele estava se desmoronando.

Enquanto sentava ali, no banco do parque, olhando para a gigantesca árvore de Natal iluminada com cores douradas e vermelhas, Adrien sussurrou para o ar gelado, perguntando como poderia continuar com essa dor, esse vazio. Foi então que algo inesperado o tirou de seus pensamentos. O som de passos leves na neve, e quando olhou para cima, viu uma pequena menina se aproximando, carregando uma caixa de presente embrulhada com papel verde brilhante.

Ela estava vestida com um vestido de veludo vermelho, meias brancas e um gorro verde de tricô que balançava a cada passo. As bochechas rosadas de tanto frio e os olhos brilhando com uma bondade tão pura que parecia quase doloroso olhar para ela. Atrás dela, sua mãe caminhava com algumas sacolas de compras e um sorriso acolhedor. A menina parou na frente dele, inclinando a cabeça, como se tentasse entender por que um adulto estava sozinho naquela noite mágica.

Antes que ele pudesse forçar um sorriso educado, a pequena levantou a mão com a luvinha e, suavemente, limpou uma lágrima que ele nem havia percebido ter caído. A menina o olhou com uma sinceridade infantil, aquela honestidade que os adultos muitas vezes perdem ao longo dos anos. E então, com uma voz doce e reconfortante, disse palavras que atravessaram as barreiras ao redor de seu coração:
“Não chore, senhor. Você pode pegar emprestado minha mamãe.”

O silêncio ao redor pareceu segurar a respiração por um momento, e Adrien sentiu algo desabar dentro de si. Algo pesado, algo que ele carregava há muito tempo. Ele abaixou a cabeça, dominado pela emoção, e por um breve instante, não conseguiu dizer nada. A menina, chamada Marina, colocou o presente de verde na sua perna antes que sua mãe chegasse até eles, pedindo desculpas pela ousadia da filha. Mas ela pediu desculpas com um sorriso, um sorriso tão genuíno que indicava que ela também possuía um coração tão generoso quanto o de Marina.

A mulher se apresentou como Sophia Vale, com um aceno respeitoso, enquanto Marina, com orgulho, explicou que o presente não era para ela, mas para Adrien, porque ninguém deveria passar o Natal sozinho. Adrien tentou recusar, mas Marina, com a autoridade que só uma criança de três anos possui, insistiu. Quando finalmente abriu o presente, encontrou dentro uma simples decoração feita à mão: um floco de neve de papel coberto com glitter, amarrado com um laço vermelho. O floco estava torto, irregular, imperfeito, mas era mais significativo do que qualquer prêmio corporativo que ele já havia recebido.

Sophia, com uma calma reconfortante, explicou que Marina havia feito várias dessas decorações para entregar a pessoas que pareciam precisar mais do espírito natalino. Adrien não conseguia lembrar a última vez em que alguém lhe dera algo sem esperar nada em troca. Observando o pequeno floco de neve, sentiu uma dor inesperada no peito. Não era mais tristeza, mas algo mais próximo da esperança. Algo que ele não sentia há muito tempo.

Sophia, notando as mãos trêmulas de Adrien, se sentou ao seu lado e lhe explicou que ela e Marina vinham ao parque todas as vésperas de Natal para admirar a árvore e distribuir pequenos presentes. Ela contou que aprendera essa tradição com seu falecido marido, que acreditava que o Natal não era sobre receber, mas sobre alcançar aqueles que o mundo esqueceu. Enquanto falavam, Adrien se viu compartilhando coisas que nunca havia dito em voz alta: sobre sua mãe, o calor que ela lhe dava, as promessas quebradas e a solidão que o engolira depois de sua partida.

Sophia o escutava com suavidade nos olhos. Não havia pena em seu olhar, apenas compreensão, uma compreensão que o fazia se sentir humano novamente. Marina, por sua vez, subiu no banco e encostou-se a ele, como se o conhecesse há anos, cantando uma música suave de Natal enquanto balançava as perninhas pequenas. Adrien não lembrava a última vez que a companhia de outra pessoa lhe parecia tão natural, tão reconfortante, tão imensamente bondosa. O frio da noite já não parecia tão severo. A luz da cidade, agora, parecia mais intensa. O peso que ele carregava no peito começava a se aliviar.

Sophia lhe disse que a cura não estava em esquecer, mas em permitir que novas luzes entrassem. Ela lembrou-lhe que, mesmo os invernos mais solitários, eventualmente, se derretem na primavera. Adrien percebeu que havia passado o último ano tentando escapar da dor, sem permitir-se ser tocado pela bondade, pela vida, pelos momentos simples e profundos como aquele.

Enquanto a neve se espessava no parque e o ambiente se tornava mais tranquilo, Marina, de repente, pulou para fora e agarrou a mão de Adrien, puxando-o em direção à grande árvore de Natal. Ela insistiu que ele se colocasse debaixo dela, porque boas coisas aconteciam sob árvores brilhantes. Adrien riu. Um riso genuíno, profundo, que ele nem sabia mais que possuía.

Ali, com a pequena mão de Marina segurando a sua e Sophia observando com um sorriso suave, Adrien sentiu algo que não sentia há muito tempo: a possibilidade de pertencimento.