Por anos, a imagem parecia perfeita: uma influenciadora jovem, carismática e milionária, liderando uma marca que prometia democratizar a beleza. Vivia-se o auge do sucesso digital. Mas, longe das luzes, das danças e dos lançamentos glamourosos, um turbilhão silencioso crescia. Reclamações se acumulavam, consumidores se revoltavam e denúncias explodiam. Quando veio à tona, a crise da Wipink, empresa de cosméticos fundada por Virgínia Fonseca e seus sócios, se tornou um dos maiores escândalos já vistos no universo dos influenciadores brasileiros.

A história começa em 2021, com uma proposta simples e poderosa: criar produtos acessíveis que fizessem qualquer mulher se sentir bonita. O discurso pegou. A marca cresceu rapidamente, abrindo quiosques pelo país e alcançando números impressionantes. Milhões de fragrâncias vendidas, projeções de faturamento bilionário e lives que batiam recordes de vendas em minutos. Virgínia exercia o papel de estrela absoluta — a força que empurrava a engrenagem comercial para frente.

Só que, enquanto o brilho se espalhava nas redes sociais, uma sombra surgia nos bastidores. Reclamações começaram tímidas, depois aumentaram, até explodirem de vez. Apenas em 2024, foram mais de 90 mil registros no Reclame Aqui. Em 2025, outros 30 mil. A Wipink, antes símbolo de sucesso, passou a figurar entre as empresas mais reclamadas do país, ultrapassando bancos e operadoras de telefonia — algo inimaginável para uma marca tão recente.

WePink, de Virginia Fonseca, tem mais reclamações que empresas de telefonia  - Famosos | Entretenimento

Os relatos se repetiam: atrasos absurdos que chegavam a sete meses, produtos com defeito, itens enviados errados, dificuldades para trocar ou cancelar compras e um atendimento quase inacessível. Muitos clientes se sentiam presos em um labirinto de respostas automáticas, sem conseguir falar com um atendente real. O sentimento geral era de abandono.

A situação chamou a atenção do Procon e do Ministério Público de Goiás, que passaram a investigar a fundo o que estava acontecendo. E foi aí que a crise deixou de ser apenas comercial e virou jurídica. A investigação apontou que a empresa vendia produtos sem ter estoque suficiente, algo admitido publicamente por um dos sócios durante uma transmissão ao vivo. A revelação acendeu o alerta definitivo: como uma marca desse porte podia anunciar entregas rápidas sem ter garantia de produto disponível?

Em outubro de 2025, o MP entrou com uma ação civil pública contra a empresa e os quatro sócios, incluindo Virgínia. A acusação era dura: práticas abusivas, propaganda enganosa, falhas graves de atendimento e venda sem estoque. A Justiça de Goiás proibiu novas lives de vendas até que a empresa provasse ter produtos para entregar, determinou multa e exigiu mudanças imediatas no atendimento.

Mas as tensões só aumentaram quando, mesmo após a proibição, Virgínia continuou divulgando promoções da marca em suas redes pessoais, com posts que foram rapidamente republicados pelo perfil oficial da Wipink. Para o Ministério Público, isso configurou tentativa de burlar a decisão judicial — e a repercussão foi devastadora.

Enquanto isso, um caso ainda mais grave ganhou destaque e colocou a Wipink sob um holofote ainda mais intenso: o da cabeleireira Lidiane Herculano, que sofreu queimaduras químicas nos olhos após usar um sérum para cílios da marca. A história dela, marcada por dor intensa, visão comprometida e medo real de perder a vista, repercutiu em todo o país. E, quando surgiram outros relatos semelhantes, a preocupação se tornou pública e urgente.

WePink: Empresa de Virginia teve mais de 120 mil reclamações | G1

A reação da empresa ao caso de Lidiane dividiu opiniões e gerou mais polêmica. A consumidora afirmou que a Wipink tentou abafar a situação e que a perícia só seria feita de forma independente, enquanto a marca alegava falta de colaboração. A disputa ganhou tanta força que influenciadores que comentaram o caso começaram a receber notificações extrajudiciais pedindo a remoção de vídeos e críticas. Para muitos, aquilo parecia uma tentativa de silenciamento.

O clima ficou ainda mais tenso quando o youtuber Paulo R. foi processado por Virgínia, acusado de espalhar informações sem provas e promover um “linchamento digital”. Do outro lado, defensores afirmavam que ele apenas ecoava denúncias legítimas de consumidores.

Foi nesse cenário caótico que o caso chegou ao Cidade Alerta, com Celso Russomano anunciando uma série de reportagens sobre as denúncias. A entrada do programa, conhecido por sua atuação incisiva em defesa do consumidor, colocou ainda mais pressão sobre a empresa.

Depois de meses de exposição, debates e investigações, novembro de 2025 trouxe um desfecho parcial: uma audiência de conciliação entre Wipink, Ministério Público e os sócios resultou em um acordo. A empresa aceitou pagar 5 milhões de reais por danos morais coletivos, além de cumprir uma lista de obrigações para melhorar o atendimento, facilitar cancelamentos e garantir estoque antes de novas campanhas de venda. Também se comprometeu a indenizar individualmente consumidores lesados.

Com isso, as lives foram liberadas novamente — mas sob regras rígidas e com fiscalização apertada. A marca passou a contratar novos atendentes, reorganizar setores e tentar reconstruir a imagem pública que ficou abalada como nunca antes.

O futuro da Wipink permanece incerto. Apesar das medidas adotadas, as marcas deixadas pela crise ainda ecoam entre consumidores, influenciadores e profissionais do setor. O episódio serviu como alerta para todo o mercado: por trás do glamour das redes sociais, existe responsabilidade, transparência e uma realidade que não pode ser maquiada por filtros.

A história da Wipink ainda está sendo escrita — e o Brasil segue assistindo de perto.