Quando Alina entrou naquela sala de vidro, cheia de esperança e carregando um currículo gasto, não foi recebida com um sorriso. Nem mesmo com um olhar.
— Nome? — perguntou o homem atrás da mesa, os olhos grudados no celular.
— Alina.
Ele apontou com o dedo, sem levantar a cabeça:
— Deixa seu currículo na mesa. Se estivermos desesperados, a gente liga.

Alina ficou parada, desconcertada.
— Achei que a entrevista fosse hoje.
Ele riu seco.
— Entrevista? Não estamos contratando lavadores de prato agora.

Sem reação, ela apenas assentiu e colocou cuidadosamente a pasta sobre a mesa. Uma das pontas já estava gasta de tanto ser reutilizada. Ao sair, ouviu a pasta ser descartada no lixo como se fosse algo sujo. A recepcionista prendeu a respiração. Alina, não. Ela continuou andando. Não olhou para trás. Não podia.

Era a última tentativa. O último currículo impresso. O aluguel vencia em quatro dias e as contas médicas do irmão tinham devorado tudo que ela tinha. Ainda assim, caminhava com a cabeça erguida. Na rua, o vento levantou a borda do casaco e, por um instante, parecia que ela poderia voar.

O que ninguém sabia — nem o bilionário arrogante que jogou fora seu currículo, nem os que observaram sem dizer nada — era que Alina tinha outra pasta dentro da bolsa. Não era um currículo. Era um projeto. Um plano de negócios que ela havia aperfeiçoado noite após noite, no computador quebrado da biblioteca pública. E ela não ia deixar aquele homem definir seu destino.

Três anos depois, o prédio mudara de dono. Rumores circulavam sobre a nova CEO: jovem, brilhante, enigmática. Diziam que ela não tinha formação formal, mas sua startup havia conquistado o país. Investidores a chamavam de visionária. Os funcionários, de Misolina.

Já Marcus Velt, o bilionário que descartara Alina como lixo, estava em queda livre. Seu império desmoronava com escândalos, perdas milionárias e abandono de investidores. Desesperado, ele procurou uma parceria com a única plataforma que ainda poderia salvá-lo — a de Alina.

Ao chegar no novo prédio, Marcus esperou na fila junto com estagiários. Seus cabelos agora grisalhos, a jaqueta amarrotada. Quando foi finalmente chamado, não reconheceu a mulher atrás da mesa até que ela levantou os olhos.
— Veio por causa da proposta de parceria? — perguntou Alina, fria.

Ele piscou, atônito.
— Você… é você?

Ela assentiu.
— A candidata descartada.
Silêncio. Murmúrios no corredor.
— Olha… eu não sabia quem você era. Foi um erro. Admito.
— Você não sabia porque não olhou. — respondeu ela, tirando uma folha plastificada da gaveta.

Era o mesmo currículo que ele jogara fora. Agora, plastificado.
— Encontrei isso na lixeira do meu e-mail no dia em que assinei meu primeiro investidor. Guardei como lembrete.

Marcus ficou sem palavras.
— Não estou aqui pedindo favor. Preciso de uma chance. Minha empresa está afundando. A sua é minha última esperança.

Ela o encarou.
— Quer trabalhar comigo?

Ele hesitou, mas assentiu.
— Sim.

Mais olhares. Alina se levantou e caminhou até a janela.
— Naquele dia, eu estava disposta a trabalhar por quase nada. Eu precisava daquele emprego. Mas você não me viu.

Ela se virou, firme.
— Construi algo melhor. Não por causa da sua rejeição, mas apesar dela.

Pausou, caminhou até ele, e entregou um cartão.
— Não precisamos de parceiros. Mas temos uma vaga. Suporte ao cliente, nível júnior.

Marcus empalideceu.
— Você disse que ligaria se estivesse desesperado. Está?

Todos no andar prenderam a respiração.

Ele respirou fundo.
— Sim.

Ela assentiu, breve.
— Comece na segunda.

Quando ele saiu, em silêncio, os funcionários abriram caminho. Alguns aplaudiram em silêncio. Um zelador murmurou:
— Bem feito.

Naquele dia, todos no prédio aprenderam uma lição que nenhum MBA ensina: respeito não se conquista com status. Se conquista ao enxergar as pessoas, mesmo quando o mundo inteiro insiste que elas são invisíveis.