O que começou como uma simples busca por um documento arquivado virou o ponto de partida de uma investigação que pode desenterrar um dos casos mais obscuros da história recente de São João do Sabará, no interior de Minas Gerais. Um desenho infantil, esquecido entre relatórios jurídicos, está sacudindo as estruturas do fórum de Belo Horizonte e ameaçando nomes influentes da cidade. No centro disso tudo, estão o juiz Augusto Menezes, a artista plástica Maria Flor Alves e um passado que insiste em não permanecer enterrado.

Tudo começou quando o juiz Menezes folheava antigos processos em uma sala abafada do fórum e, entre páginas amareladas e relatórios esquecidos, encontrou um papel solto: um desenho feito a lápis de cor, retratando um quintal com uma mangueira frondosa, um portão azul e uma figura humana com uma mancha vermelha no peito. Algo naquele traço inocente perturbou o magistrado. Aquilo não pertencia àquele tipo de documento.

Sem saber exatamente por quê, ele decidiu investigar — e a primeira pessoa que lhe veio à mente foi Maria Flor Alves, artista plástica conhecida por suas telas de paisagens bucólicas com toques desconcertantes. Ao ser confrontada com o desenho, Maria não confirmou sua autoria, mas também não negou. Disse apenas que não se lembrava. Mas sua expressão dizia o contrário.

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A partir desse encontro, uma cadeia de eventos começou a se desenrolar. O jornalista Eduardo “Duda” Campos, atento observador das movimentações no fórum, notou a presença de Maria Flor e, intrigado, decidiu seguir o caso. Logo, descobriu que o desenho remetia a um desaparecimento ocorrido há 15 anos, em São João do Sabará, onde uma menina sumiu misteriosamente do quintal de casa — um quintal com mangueira e um portão azul, exatamente como no desenho.

Quando o desenho foi entregue à perícia, descobriu-se que o papel datava da mesma época do desaparecimento, com traços compatíveis com uma criança de 7 a 9 anos. Mais do que isso: havia marcas no papel indicando que outro desenho havia sido feito por cima e arrancado depois. Um detalhe que poderia esconder algo ainda mais revelador.

Paralelamente, pessoas começaram a se incomodar com essa investigação. A advogada Virgínia Tavares, conhecida por sua frieza e habilidade em manipular os bastidores da justiça, mostrou-se visivelmente preocupada. Uma reportagem foi publicada tentando desacreditar a importância do desenho, alegando que era “apenas um papel deixado por algum estagiário”. Mas o juiz Menezes não se deixou abalar.

Enquanto isso, novas peças surgiam. Uma foto antiga da casa do desaparecimento, estampada em um jornal, fez Maria Flor paralisar em plena rua — ela reconhecia aquele lugar, mesmo que negasse a si mesma. Lembranças turvas começaram a emergir: o calor da terra sob as pernas, o som abafado de um grito, o bater de um portão.

Duda e o sargento aposentado Nogueira decidiram ir até a casa retratada no desenho. No local, encontraram vestígios recentes, marcas de pneus, restos de papelão e desenhos infantis desbotados nas paredes. Eles não estavam sozinhos — alguém os observava, fugindo ao menor sinal de aproximação.

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Ao ampliar uma foto tirada durante a visita, Duda identificou um retalho de tecido colorido preso a um galho. Nogueira reconheceu imediatamente: era igual ao vestido da menina desaparecida. Era a primeira evidência física concreta conectando o desenho à vítima.

O clima de tensão aumentava. Maria Flor começou a ser seguida, Menezes recebeu ligações ameaçadoras, e Duda passou a ser vigiado. Não era apenas uma investigação. Era uma ameaça a um pacto de silêncio que durava mais de uma década.

O mais perturbador, porém, ainda estava por vir. A perícia confirmou que o desenho era da época do crime. A possibilidade mais assustadora? Que ele tenha sido feito por alguém que estava lá. Que viu tudo. Talvez até por quem participou. Maria Flor, embora fragilizada, insiste em dizer que não lembra. Mas o juiz Menezes sabe: ela sabe mais do que diz.

À medida que o cerco se fecha, nomes poderosos se movem para impedir que a verdade venha à tona. Mas a memória, mesmo reprimida, cobra seu preço. E uma pequena folha de papel, com traços infantis e uma mancha vermelha, pode ser a chave para reabrir um caso que muitos acreditavam enterrado para sempre.