O som dos saltos ecoava no imenso hall da mansão Oliveira. Marcelo, um homem antes conhecido pelo sorriso fácil e pelo olhar vibrante, agora observava em silêncio uma fila interminável de candidatas à vaga de babá de sua filha Amanda. Desde o trágico acidente que tirara a vida de sua esposa Sara dois anos atrás, ele se tornara uma sombra do que já fora. Frio. Reservado. Devastado. Mas Amanda precisava de alguém. E ele, mais ainda, precisava protegê-la — de tudo, inclusive da dor.

Cada mulher que entrava era rapidamente descartada. Jovens demais. Sérias demais. Vazias demais. Até que a porta se abriu… e Marcelo prendeu a respiração. A mulher que entrou tinha um andar tímido, abraçava a bolsa ao peito, e carregava nos olhos um azul tão familiar que o peito dele doeu. O mesmo azul que ele via todas as manhãs em Sara. A semelhança era absurda. Inquietante. Dolorosa.

O nome dela era Isabele Reed. E em segundos, sem dizer quase nada, ela virou o mundo dele de cabeça para baixo.

Isabele contou que cresceu cuidando dos irmãos mais novos, que amava crianças, que tinha vocação para cuidar. Mas Marcelo mal ouvia as palavras — era como se uma força invisível o puxasse para ela. Ele mal conseguia respirar. A dor da saudade se misturava ao calor estranho de algo novo. Antes que percebesse, ela já estava contratada. Ele nem quis continuar as entrevistas. Precisava dela. Não só como babá… mas ainda não sabia disso.

A aproximação com Amanda foi mágica. A menina, desde a morte da mãe, vivia retraída, fechada em um mundo onde poucos tinham acesso. Mas Isabele, com doçura e sensibilidade, ganhou sua confiança em minutos. Amanda sorriu. Deu-lhe uma boneca. E o coração de Marcelo, silenciosamente, começou a bater de novo.

Isabele se tornou presença constante na casa — e, sem pedir licença, também no coração dele. Mas o conflito era inevitável. Marcelo lutava contra o sentimento. “Ela não é Sara”, repetia para si mesmo. Mas tudo nela — o olhar, o gesto, o jeito com Amanda — fazia a saudade doer menos… e a esperança renascer.

Certa manhã, ao vê-la sorrindo ao sol, rindo com Amanda no jardim, Marcelo entendeu. Não era apenas saudade. Era amor. Um novo amor. Forte. Assustador. E completamente verdadeiro. Ele a desejava não como substituta de Sara, mas como quem ela realmente era: Isabele. Diferente. Única. Essencial.

E Isabele… também sentia. Tentava esconder. Tentava negar. Mas não conseguia. Os toques acidentais, os olhares demorados, a respiração presa… tudo entre eles gritava o que a boca ainda temia dizer.

Até que não houve mais como fugir. No pôr do sol dourado daquele mesmo jardim, Marcelo se aproximou dela. O coração na boca, a alma tremendo. “Desde o momento em que te vi, pensei que era por causa da semelhança com Sara. Mas agora eu sei. Não é por isso. É porque você me trouxe de volta à vida.”

Isabele não conteve as lágrimas. E nem as palavras: “Eu também te amo. Do jeito mais verdadeiro que já amei alguém.”

O beijo veio como um reencontro de almas. O passado, enfim, encontrava paz. O futuro começava ali.

Meses depois, a mansão se enchia de flores e música. Amanda, de vestido rosa, corria pelos corredores sorrindo. No jardim, Marcelo esperava no altar, o coração disparado. Quando Isabele surgiu vestida de branco, ele soube com certeza: ela era sua mulher. Seu presente. Seu recomeço. Eles se casaram sob o céu alaranjado, selando um amor que superou a dor, a culpa e o medo.

E enquanto se beijavam, com Amanda sorrindo ao lado, Marcelo teve certeza: a felicidade — depois de tudo — tinha voltado para ficar.