Na mansão onde o silêncio era parte da rotina e os corredores ecoavam lembranças de um passado marcado por perdas, ninguém imaginava que o destino estava prestes a mudar tudo — e por causa de uma babá.

Antunes, um bilionário reservado e marcado pela dor da perda precoce de sua esposa, vivia uma existência impecável aos olhos de todos: fortuna garantida, uma empresa poderosa nas mãos e festas luxuosas que preenchiam sua agenda. Mas dentro da mansão, só restavam ele e o pequeno Davi, seu filho de 5 anos. A única alegria genuína de sua vida.

Foi quando Aa chegou. Jovem, de aparência simples e olhos cheios de uma mistura estranha de força e delicadeza. Veio como babá, enviada para cuidar de Davi — mas carregava um segredo, um plano que nem ela mesma sabia se teria coragem de concluir.

Logo nos primeiros dias, Aa transformou aquele lar frio em algo diferente. Ela ria com Davi no jardim, contava histórias antes de dormir e o fazia esquecer, por alguns momentos, a ausência da mãe. Antunes observava, tentando manter distância. Mas a verdade é que ele se via, pouco a pouco, sendo puxado para uma nova realidade: a presença daquela mulher começava a quebrar suas defesas.

Mas Aa não era apenas luz. Por trás do sorriso calmo, havia uma história difícil. Vinha de uma família marcada por dívidas e tragédias. Assumir o emprego de babá era apenas parte de um plano: conquistar a confiança do bilionário, aproximar-se dele… e, quem sabe, mudar o destino de sua própria família. Não era uma golpista. Era apenas uma jovem tentando sobreviver.

Contudo, o coração não segue roteiros.

A cada gesto de carinho de Antunes, a cada riso compartilhado com Davi, o plano que antes parecia tão lógico se tornava uma armadilha emocional. E então, vieram os olhares. Os silêncios carregados de algo que nenhum dos dois tinha coragem de nomear.

Em uma noite qualquer, após um dia comum, Antunes a chamou para jantar. Era a primeira vez que a convidava para a mesa principal da casa. Um gesto simples, mas poderoso. Aa, vestida com um traje modesto, mas cheio de elegância natural, parou o coração dele por um instante. Ela era diferente de tudo o que ele já havia conhecido.

Durante o jantar, entre conversas sobre bicicletas e quedas inevitáveis da infância, Antunes ouviu dela uma frase que ficou gravada em sua mente: “Cair é essencial para aprender a levantar.” Não era apenas sobre Davi. Era sobre a vida — e sobre ele mesmo.

O jantar virou hábito. As conversas tornaram-se mais íntimas. Davi, inocente, passou a comentar: “Papai, você sorri mais quando a Aa está por perto.”

E, de fato, ele sorria.

Certa tarde, enquanto Aa ensinava Davi a andar de bicicleta, o menino caiu. Chorou, arranhou o joelho. Mas ela o acalmou com palavras doces e firmes. Antunes observava da varanda. E ali, naquele momento banal, entendeu: aquela mulher estava preenchendo um vazio que nem todo o dinheiro do mundo havia conseguido curar.

Mais tarde, sob o brilho suave da lua no jardim, Antunes a chamou para uma conversa. Com os olhos carregados de emoções que há anos ele evitava sentir, disse:

“Você mudou esta casa. Mudou minha vida. Quando olho para você, é como se eu tivesse encontrado algo que pensei ter perdido para sempre.”

Aa tentou responder, mas não conseguiu. Estava mergulhada em um turbilhão de sentimentos. O plano — aquele que parecia tão claro e prático no início — agora era só um eco distante. Ela já não fingia. Ela sentia.

Nos dias que seguiram, tudo mudou. Antunes passou a dedicar mais tempo em casa. Participava das brincadeiras com Davi, ajudava a construir castelos de brinquedo no chão da sala e trocava olhares com Aa que diziam mais que palavras. O bilionário rígido estava se tornando um homem de verdade novamente — vulnerável, presente, humano.

Mas o medo persistia.

Aa sabia que se entregar significava expor seu passado, sua intenção inicial. E ele, por sua vez, lutava contra a ideia de amar de novo. A dor da perda ainda era um fantasma à espreita.

E então veio a noite em que tudo poderia ser revelado. Antunes, em seu escritório, virou-se para ela e pediu:

“Preciso que seja sincera comigo.”

Aa, com o coração na garganta, entendeu que o momento havia chegado. Mas a verdade, tão dolorosa quanto libertadora, não era mais sobre um plano. Era sobre dois corações machucados tentando encontrar abrigo um no outro.

O que começou como uma estratégia, virou amor. Real, confuso, inesperado.

E a pergunta que pairava no ar era: eles teriam coragem de viver aquilo — apesar de tudo?