A neve caía com tanta força que apagava tudo além do para-brisa. Elara apertava o volante com as mãos frias, sentindo o desespero crescer a cada segundo. O tanque de combustível estava quase seco — e pela primeira vez, ela teve que admitir que Gage não tinha mentido. Ela não conseguiria chegar à cidade.

No banco de trás, Finn, seu filho de sete anos, dormia enrolado em um cobertor fino, os cílios pesados de sonhos que uma criança como ele não podia se dar ao luxo de perder. O aquecedor do carro gemia fraco, quase morrendo, e o som da tempestade lá fora parecia papel sendo rasgado sem fim. Tudo ao redor era branco, o mundo apagado pela neve. Nenhuma luz, nenhuma estrada visível. Só o vazio.

Elara e Finn estavam viajando de promessa em promessa. Promessas de emprego, de um quarto barato, de um lugar mais seguro do que o apartamento decadente que tinham deixado para trás. Ela acreditou que a estrada os levaria a um recomeço. Em vez disso, ela os havia deixado no meio do nada, engolidos pelo frio e pela solidão.

Ela pensou em acordar Finn, contar alguma história para distraí-lo do medo que crescia dentro dela. Mas, antes que pudesse falar qualquer coisa, faróis surgiram no espelho retrovisor. Uma caminhonete escura freou à frente e, em meio ao som abafado da neve, um homem alto desceu. Casaco remendado nos cotovelos, cachecol de lã apertado no pescoço, passos firmes sobre o gelo.

Ele bateu na janela com delicadeza. A voz, abafada, mas acolhedora:
— Precisa de ajuda?

Elara hesitou. Em sua experiência, ajuda sempre vinha com um preço. Mas Finn se mexeu, despertando devagar, e ela soube que não podia arriscar. Abriu o vidro só um pouco.
— Acabou a gasolina — disse, com a voz embargada.

— Meu nome é Ryland. Tem uma cabana a menos de um quilômetro daqui. O fogão a lenha está aceso. Você e seu menino deviam ir antes que o motor morra de vez — respondeu o homem, sem pressa, sem pressão.

Elara sentiu cada instinto gritar para manter distância, mas naquele momento, o frio era um inimigo muito mais perigoso do que aquele estranho. Ela assentiu em silêncio.

Os três caminharam pela neve, que batia nos joelhos de Finn. Ryland seguia na frente, abrindo caminho, a lanterna cortando os flocos no ar. As pernas de Elara queimavam, os dedos estavam duros, mas quando finalmente avistou o contorno da cabana iluminada por uma luz laranja suave, o alívio foi tão grande que seus joelhos quase cederam.

Lá dentro, o calor era como um abraço. A cabana cheirava a fumaça de pinho e algo delicioso no fogão. Ryland entregou a Finn um par de meias secas e grossas de uma cesta ao lado da lareira.
— Vocês comem carne? — perguntou, enquanto servia ensopado em tigelas descombinadas.

Eles comeram em silêncio, deixando o calor penetrar nos ossos. Finn, agora com as bochechas coradas novamente, parecia em paz. Elara percebeu o olhar de Ryland sobre ela — não de julgamento, nem de pena, mas de alguém tentando entender a história sem precisar perguntar.

Depois que Finn se aconchegou no sofá sob um cobertor pesado, Ryland se sentou e perguntou:
— Vocês são daqui?

Ela balançou a cabeça.
— De qualquer lugar que aceite a gente.

Ele assentiu, como quem compreendia mais do que ela dizia.
— A neve vai parar. As estradas devem estar boas pela manhã. Fiquem aqui até lá.

A simplicidade daquela oferta, sem exigências, sem trocas, apertou algo dentro dela. Elara percebeu que não se lembrava da última vez em que alguém a ajudou só porque podia.

Na manhã seguinte, com o céu limpo e a estrada reaparecendo sob o branco, Ryland encheu um galão de gasolina de seu galpão e recusou as notas amassadas que ela tentou lhe entregar.
— O mundo já é frio o bastante. A gente não precisa ser também — disse, enquanto ela colocava Finn de volta no carro.

Ela dirigiu devagar, vendo Ryland desaparecer pelo espelho retrovisor até virar apenas um ponto escuro na neve. Naquela noite, em uma cama de motel qualquer, com Finn dormindo ao seu lado, Elara sussurrou para o escuro:
— Ainda existem pessoas boas.

E, pela primeira vez em muitos anos, ela acreditou.

Aquele dia ensinou a ela que sobreviver exige força, mas recomeçar… recomeçar exige gentileza.