A história da We Pink, marca de cosméticos de Virgínia Fonseca, se transformou em uma das maiores polêmicas do entretenimento brasileiro em 2025. O império que parecia inabalável enfrenta agora críticas em massa, processos judiciais e uma intervenção direta da justiça que ameaça o modelo de negócios que a tornou famosa.

Virgínia Fonseca não é apenas uma influenciadora digital; ela é um fenômeno do marketing brasileiro. Filha de pastores evangélicos, ganhou notoriedade ao se envolver com Zé Felipe, filho do cantor Leonardo, e rapidamente se destacou no mundo digital. Sua habilidade de vender produtos transformou seu nome em marca, inicialmente com suplementos, depois produtos infantis e, em 2021, a We Pink.

A promessa da We Pink era sedutora: produtos de qualidade, embalagens sofisticadas, preços acessíveis e a possibilidade de sentir-se tão poderosa quanto Virgínia. O modelo de vendas funcionava de forma quase mágica: em lives, a influenciadora mostrava produtos, compartilhava sua rotina e rapidamente os itens esgotavam. A proximidade e o carisma de Virgínia fizeram da marca um sucesso instantâneo, especialmente entre mulheres que não se viam representadas por grandes marcas internacionais.

WePink: empresa de Virginia é alvo de ação do MP por práticas abusivas |  CNN Brasil

Mas os primeiros sinais de problemas surgiram em 2023, com reclamações crescentes no Reclame Aqui. Consumidoras relatavam produtos com cheiro estranho, embalagens vazando e, principalmente, dificuldades extremas para trocar ou receber reembolso. Em 2024, o número de queixas disparou: cerca de 90.000 reclamações foram registradas em apenas um ano. Muitas críticas negativas foram apagadas das redes sociais da empresa, enquanto clientes persistentes eram bloqueados, configurando o que o Ministério Público chamou de censura.

Em janeiro de 2025, o primeiro grande escândalo midiático envolvendo a marca surgiu quando golpistas usaram a imagem de Virgínia em vídeos manipulados por inteligência artificial, promovendo cursos falsos com promessas de enriquecimento. Ao mesmo tempo, consumidoras reais começaram a entrar com processos contra a empresa, citando problemas como produtos vencidos e atendimento ineficiente.

O ápice da crise veio em outubro de 2025, quando o Ministério Público de Goiás entrou com uma ação civil pública contra a We Pink, acusando a marca de práticas comerciais abusivas, propaganda enganosa e censura de reclamações. Até outubro, já eram mais de 120.000 queixas registradas, número equivalente à população de uma cidade inteira. O pedido do MP inclui uma multa de R$ 5 milhões e mudanças radicais na forma como a empresa se relaciona com os consumidores.

O golpe mais drástico veio com a decisão judicial de proibir a realização de lives para vendas, a principal ferramenta da We Pink. As transmissões ao vivo criavam um clima de urgência que levava consumidores a comprar rapidamente, muitas vezes sem receber o que compraram. Sem as lives, o modelo de negócio da marca é profundamente impactado, já que era nelas que Virgínia construía intimidade e confiança com seu público.

Cliente processa Virgínia Fonseca por causa de body splash: entenda

Enquanto isso, em setembro de 2025, a We Pink comemorava 4 anos de existência com uma festa milionária em São Paulo, repleta de celebridades, flashs e champanhe. A ironia não passou despercebida: enquanto a empresa celebrava seu sucesso, o império já enfrentava rachaduras nos bastidores.

A estrutura da We Pink inclui quatro sócios: Virgínia Fonseca, Samara Pink, Thiago Stabil e Sha Pentan. Samara, braço direito de Virgínia, e Thiago Stabil, seu marido, formam uma aliança familiar e empresarial que comanda a operação. Sha Pentan é menos visível, mas participa formalmente da sociedade. Na ação do Ministério Público, todos os sócios, incluindo Virgínia, foram citados como réus, reforçando que ela responde legalmente pelo que acontece na empresa.

Os números são assustadores: 90.000 reclamações em 2024 e mais 30.000 até outubro de 2025, totalizando 120.000 queixas em menos de dois anos. Entre os problemas relatados estão produtos que nunca chegaram, itens vencidos, embalagens danificadas e dificuldade de contato com atendimento humano. A prática de censura de comentários negativos agravou a situação, levando a Justiça a exigir canais de atendimento eficazes e transparência nas vendas.

Essa crise não é apenas sobre maquiagem: é sobre confiança, influência e responsabilidade. Virgínia Fonseca vendeu sonhos e identidade para suas seguidoras, e quando a promessa falhou, a decepção foi proporcional ao carinho e confiança depositados. A We Pink se tornou um espelho da relação entre celebridade e consumidor no Brasil moderno: quando a confiança é quebrada, as consequências são enormes.

A marca ainda enfrenta desafios sérios, incluindo o cumprimento de novas regras judiciais e a necessidade de reconquistar a confiança de seu público. Enquanto isso, as redes sociais continuam fervendo, com consumidoras compartilhando suas experiências e exigindo respostas.

O caso da We Pink mostra que marketing de influência não é apenas uma estratégia de vendas, mas uma grande responsabilidade. Prometer sonhos sem garantir a realidade dos produtos pode transformar uma marca de sucesso em um verdadeiro pesadelo. A trajetória da We Pink em 2025 será lembrada como um marco do que acontece quando fama, poder e consumo se misturam de forma descontrolada.