Eram pouco mais de seis da tarde quando Camila, Zoe e Lucía viram o homem que mudaria tudo em suas vidas. Saía do hotel mais caro do centro, imponente, sapatos impecáveis, postura de quem tem o mundo nas mãos. Julián Echeverry. Milionário. Famoso por sua fortuna feita com tecnologia e investimentos misteriosos. Aparentemente um filantropo, mas nas ruas sussurravam outro nome para ele: o Salvador Sombrio.

Camila tinha a mãe doente em casa, sem seguro e com dívidas se acumulando. Zoe estava desempregada, prestes a ser despejada. Lucía, por sua vez, devia dinheiro a pessoas perigosas. As três não se aproximaram por ambição. Era desespero puro.

Seguiram Julián por três quadras até seu carro preto reluzente. Com coragem tremendo nos lábios, Camila o abordou. Ele as olhou com interesse frio, calculista, e depois de ouvi-las, fez uma proposta: poderia ajudar, mas sob suas regras. Nada de dinheiro ou favores íntimos, dizia ele. Mas exigia obediência total.

As três aceitaram. Entraram naquele carro e deixaram para trás a cidade, rumo a uma mansão isolada que parecia saída de outro século. Ao chegarem, foram recebidas por um homem de preto e conduzidas ao interior silencioso e sufocante da casa. Outras três mulheres também apareceram, com o mesmo olhar perdido.

Na sala de jantar, Julián serviu vinho e anunciou: “Bem-vindas ao acordo”. Cada uma recebeu uma tarefa. Camila deveria cuidar de uma idosa muda e observadora. Zoe, trabalhar no arquivo do porão com documentos antigos e proibidos. Lucía acompanharia Julián a uma reunião secreta.

A noite trouxe mais do que o esperado.

Camila sentiu-se observada constantemente. A idosa nunca falava, mas parecia mover-se sutilmente, sempre se aproximando quando ela se virava. Zoe descobriu pastas com fotos de mulheres desaparecidas, inclusive de uma que se parecia com uma das convidadas. Algo rastejava entre os arquivos. Lucía presenciou um ritual bizarro com homens falando línguas estranhas, escrevendo com sangue e citando nomes de mulheres sumidas.

Ao amanhecer, tremendo, elas se reencontraram. Julián apareceu e parabenizou: “Todas passaram a primeira prova”. Mas Zoe não aguentou e exigiu respostas. A resposta foi simples, brutal e definitiva: “Vocês são investimento. O inferno, eu construí aqui mesmo”.

Era claro: não estavam sendo ajudadas. Estavam sendo usadas. Lucía propôs a fuga. Camila, com uma chave dada em silêncio pela idosa, liderou o grupo até o sótão. Lá, atrás de uma estante, havia um compartimento secreto. Dentro, provas: fotos, documentos, vídeos, até uma memória USB com evidências do que realmente acontecia ali — uma rede de tráfico de mulheres, mascarada de caridade.

Elas fugiram. Arrombaram uma porta nos fundos, dispararam alarmes, correram pela estrada até serem socorridas por um motorista que chamou a polícia. Horas depois, a mansão foi invadida. Encontraram outras garotas. E restos daquelas que não conseguiram escapar.

Julián desapareceu.

Camila conseguiu tratar sua mãe. Zoe reconstruiu sua vida. Lucía, agora jornalista, prometeu contar essa história ao mundo. Para que ninguém mais caísse nas mãos do homem que transformou o desespero em lucro e a esperança em inferno.

Porque nem todo salvador usa capa. Alguns dirigem carros de luxo, sorriem com calma… e escondem monstros atrás de portas antigas.