Andrés nunca imaginou revê-la daquele jeito. Cabelos presos em um rabo de cavalo apertado, rosto abatido e uma barriga que falava por si só. Parado na entrada do novo apartamento que acabara de comprar, com as chaves em uma mão e uma sacola de supermercado na outra, ele congelou. Lá estava Diana, com um uniforme de limpeza, um esfregão nas mãos e uma expressão entre surpresa e incômodo.

O silêncio entre os dois pesava mais que qualquer palavra. Fazia três anos desde a última vez que se falaram. A última mensagem dela foi clara e fria: “Não quero saber mais nada de você, Andrés.” E ele, ferido no orgulho, decidiu desaparecer, convencido de que estava certo. Agora, ela estava ali, diante dele, visivelmente grávida, limpando o chão do seu novo lar.

— Você trabalha aqui? — perguntou ele, mesmo com a resposta evidente.

— Trabalho onde me pagam — respondeu ela, sem olhar diretamente para ele.

Diante daquela mulher, que um dia foi sua esposa e a única pessoa que realmente o importou, Andrés se sentiu pequeno. Milionário sim — com carros de luxo, propriedades, relógios caros —, mas nada daquilo fazia sentido agora. Ela, com joelhos inchados, mãos ressecadas pelos produtos de limpeza e uma barriga de pelo menos seis meses, era um retrato que ele não conseguia apagar.

— É meu? — a pergunta escapou, mais ríspida do que pretendia.

— Não é seu — respondeu ela, firme, fria, e doeu mais do que um tapa.

Mas ele sabia que algo não fechava. O tempo batia. Ela sumiu logo após o divórcio. E se fosse dele? Quis insistir, mas Diana cortou:

— Não vim aqui atrás de você. Só estou trabalhando.

Era um tom que não pedia compaixão nem piedade. Era o tom de quem já sofreu tudo que tinha para sofrer. Ele tentou lembrar por que tinham se afastado tanto. Quando se separaram, ele acreditava estar se libertando de uma vida monótona. Seu negócio crescia, ele viajava, fechava contratos, e ela… ela pedia atenção. Falava sobre distância emocional, sobre saudade, sobre abandono. Mas ele só via números.

Agora entendia: cresceu como empresário, mas encolheu como homem.

Naquela noite, não conseguiu dormir. A imagem de Diana grávida, a dor nos olhos dela, as palavras que não disse… tudo o perseguia. E a dúvida: “E se for meu filho?”

No dia seguinte, ligou para a agência de limpeza e conseguiu o endereço dela. Não era uma casa, era um quartinho nos fundos de uma casa velha, num bairro esquecido. Ele foi. Bateu na porta. Ela abriu, sem surpresa.

— Te disse que não precisava da sua ajuda — disse, sem sair do batente.

— Não vim ajudar. Vim pedir perdão.

Ela não respondeu de imediato. Ele insistiu:

— Preciso saber se esse bebê é meu.

Ela hesitou. Quis mentir de novo, mandá-lo embora. Mas algo dentro dela cedeu.

— Sim. É seu.

O mundo parou. Ele quis tocá-la, sentir o bebê, mas não teve coragem. Sabia que havia perdido esse direito. Perguntou por que ela não contou.

— Porque você já tinha ido embora muito antes de sair de casa. Não queria parecer interesseira. Não queria esmolas.

— Nunca devia ter te deixado sozinha, Diana — disse ele, visivelmente quebrado.

Ela se sentou, cansada. Ele entrou sem ser convidado.

— Posso te ajudar? Não por pena. Por responsabilidade. Porque é o certo.

Ela o olhou com olhos marejados, mas firmes:

— Não preciso que compre casa nem luxo. Mas se for ficar, fique de verdade. Não por culpa. Por amor. Ou vá embora agora.

Ele voltou três dias depois. Sem carro de luxo, sem promessas. Levou uma cuna, roupinhas e comida feita por ele mesmo. Diana o deixou entrar. Não falou muito. Mas já não o olhava com a mesma frieza.

Ele permaneceu. Acompanhava consultas, ajudava no que podia, respeitava o silêncio dela. Estava presente. Algo que nunca tinha feito antes.

No parto, estava lá. Segurou a mão dela. Chorou quando ouviu o choro do filho. Um menino. Seu filho. O pegou nos braços como se segurasse o mundo.

— Sou seu pai — sussurrou. — Me perdoa por chegar tão tarde.

Diana o observava em silêncio. Sabia que não era só sobre o bebê. Ele estava tentando também por ela.

Meses se passaram. Ela deixou os serviços de limpeza, retomou seus estudos. Ele ajustou o ritmo da empresa para trabalhar de casa. Tiveram brigas, sim. Silêncios difíceis. Mas havia algo novo: compromisso.

Certa noite, sentados no sofá com o bebê dormindo entre eles, ela encostou a cabeça em seu ombro. Não disse nada. E ele entendeu: desta vez, estava fazendo certo.