A noite de estreia do “Sabadou com Virgínia”, no dia 6 de abril de 2024, marcou um momento histórico para a televisão brasileira. Em plena comemoração de seus 25 anos, Virgínia Fonseca — influenciadora digital, empresária e agora apresentadora — debutava no SBT com um programa em rede nacional, em pleno horário nobre de sábado. Luzes, famosos, música ao vivo, cenário vibrante e uma produção milimetricamente pensada para espelhar o universo digital que a consagrou nas redes sociais. Era o começo de uma nova era — ou pelo menos, parecia.

Com uma estreia que colocou o SBT em segundo lugar no Ibope e atraiu atenção de milhões, o programa gerou reações intensas. Mas enquanto o público jovem vibrava com a energia digital da nova atração, nos bastidores da emissora o clima era outro: tensão, desconfiança e resistência.

Poucos dias após a estreia, uma declaração de Carlos Massa, o Ratinho — um dos nomes mais antigos e respeitados da casa — mudou completamente o tom das conversas internas. “Ela é gigante, mas na TV deu quatro pontos. Não é a mesma coisa. Aqui o jogo é diferente”, disparou o apresentador durante uma entrevista. A fala repercutiu imediatamente, levantando uma nuvem de polêmica sobre o futuro de Virgínia no SBT e, mais ainda, sobre seu real papel dentro da emissora.

O que parecia apenas uma crítica pontual ganhou ares de embate declarado quando uma nova frase, supostamente dita por Ratinho em bastidores, vazou para colunistas e perfis de fofoca: “Virgínia quer mandar no SBT”. A frase virou manchete, dividiu opiniões e alimentou uma guerra silenciosa entre veteranos da televisão e a nova geração de comunicadores vindos da internet.

POLÊMICA: Ratinho crítica Virginia Fonseca "Não tem audiência e o SBT  errou"; Vídeo - Whitney Pereira

Virgínia, que trouxe para o programa uma equipe formada por jovens produtores com forte experiência digital, vinha implementando mudanças nos bastidores. Pautas voltadas para o engajamento online, cortes de entrevistas pensados para viralizar no TikTok, exigência de edições rápidas e sugestões de modernização em atrações tradicionais. Para os mais antigos, isso soava como arrogância. Para os mais jovens, era apenas atualização. Mas a percepção de que ela estaria tentando moldar o SBT ao seu estilo se espalhou como fogo.

Veteranos começaram a se sentir ameaçados. Rumores davam conta de que ela teria sugerido mudanças no horário de outros programas, pedido prioridade nas equipes técnicas e até interferido na produção de atrações consagradas. Aos olhos de muitos, Virgínia estava cruzando a linha entre ser apresentadora e querer comandar a emissora.

A resposta de Ratinho foi direta, ainda que sem citar nomes: “Na TV, não basta ter seguidor. Tem que ter conteúdo.” As falas dele se multiplicavam em programas de rádio, entrevistas e aparições públicas. Ao mesmo tempo, o silêncio de Virgínia diante das críticas diretas foi interpretado como estratégia — até que ela quebrou o gelo com um story no Instagram: “Trabalho com amor. Quem planta respeito, colhe respeito.” Sem mencionar ninguém, mas com alvo claro.

Nas redes sociais, o conflito explodiu. De um lado, fãs de Ratinho defendiam a tradição da TV aberta e o respeito aos apresentadores consagrados. Do outro, admiradores de Virgínia exaltavam a coragem da influenciadora e sua tentativa de modernizar um modelo considerado ultrapassado por muitos jovens. Hashtags como “Força Virgínia” e “Ratinho tem razão” chegaram aos trending topics do X (antigo Twitter).

A crise não ficou restrita aos bastidores. Impactou também os números. Após uma estreia forte, o “Sabadou com Virgínia” começou a oscilar no Ibope. Em algumas semanas, manteve boa audiência. Em outras, perdeu fôlego. Comparações com Ratinho se tornaram inevitáveis. E para muitos, a disputa velada entre os dois virou símbolo de algo maior: o choque de gerações que vive a televisão brasileira.

Enquanto Virgínia apostava em quadros curtos, estética digital e comunicação direta com o público jovem, Ratinho mantinha sua fórmula clássica de auditório — e continuava entregando resultados sólidos. A tensão entre tradição e inovação ficou escancarada.

Internamente, o SBT tentava equilibrar as forças. Executivos viam em Virgínia a chance de renovar o público, atrair novas marcas e abrir diálogo com uma geração que consome conteúdo de maneira diferente. Mas também sabiam que não podiam descartar nomes que construíram a história da emissora.

O cenário se tornou ainda mais instável quando artistas começaram a tomar partido. Amigos sertanejos de Zé Felipe, ex-marido de Virgínia, saíram em defesa da apresentadora. Enquanto isso, colegas veteranos de Ratinho — ainda que discretamente — manifestavam solidariedade ao apresentador.

Em meio a memes, cortes virais e debates acalorados, o embate entre Virgínia e Ratinho deixou de ser apenas uma questão de ego ou disputa por espaço. Tornou-se um símbolo do momento atual da televisão brasileira: ou se adapta ao novo, ou resiste em manter o velho. E no meio dessa encruzilhada, o SBT tenta não apenas sobreviver — mas decidir que tipo de emissora quer ser daqui para frente.