UM GRITO NO MEIO DO TIROTEIO

Na madrugada de terça-feira, o cenário nas comunidades de Complexo do Alemão e Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, se transformou em palco de guerra. Em meio à operação que mobilizou milhares de agentes de segurança, uma das figuras envolvidas — conhecida como Penélope “Japinha do CV” — trocou uma última mensagem, breve, angustiada: “A bala tá comendo”. Logo em seguida, foi morta por um disparo de fuzil na cabeça.
A conversa, capturada via WhatsApp, é o retrato chocante de quem sabia que não sairia dali.

A MENSAGEM FINAL
Penélope iniciou a comunicação com “Oi”, fez chamada de vídeo por cerca de três minutos, e em seguida escreveu: “Oi. Não vamos ficar aqui não”. Questionada se a operação havia terminado, respondeu: “Não. Eles tão aqui em cima de nós. A bala tá comendo. Helicóptero tá aqui rodando”. Poucos instantes depois, o corte abrupto. A amiga, no outro lado da tela, ficou sem resposta.
Essas palavras da “Japinha do CV” desvelam a urgência, o medo, o fim iminente.

O PERFIL E A AÇÃO
A jovem era apontada como integrante ativa da facção Comando Vermelho, ocupando papel operacional de destaque, segundo fontes da segurança pública. Vestia roupas camufladas, colete tático com compartimentos para carregadores de fuzil, fazia uso de redes sociais para ostentar armas e poder. No momento da operação, estava posicionada em rota de fuga ou defesa de ponto estratégico — conforme análise preliminar das forças envolvidas.
A operação, considerada uma das mais letais realizadas no estado, ocorreu em territórios onde a dominação das facções se consolidou há anos — e foi desenhada para romper essa lógica.

O MOMENTO DO CONFRONTO
Quando o cerco se fechou, a região foi palco de intenso tiroteio: helicópteros sobrevoaram, agentes especializados adentraram vielas, o impacto do fogo cruzado ecoou sob o grito e a fumaça. Os relatos de moradores falam em terror, pânico, ruas esvaziadas. Penélope estava no meio desse cenário. A última mensagem condensa todo o contexto: “A bala tá comendo” — expressão usada para indicar que tiros estavam voando, o confronto era direto, a fuga talvez impossível.
Instantes depois, o disparo fatal. O corpo encontrado em um acesso da comunidade, com o rosto atingido por fuzil. A investigação aponta que ela teria reagido à aproximação policial, resultado que quase sempre marca o encerramento violento desse tipo de ação.

IMPACTO NA COMUNIDADE E NA OPERAÇÃO
Para os moradores, o episódio deixa marcas profundas. A sensação de insegurança se intensifica, a rotina se altera. Para a operação, há vitórias pontuais — captura de armas, diminuição de circulação de criminosos —, mas o preço é alto. Na mídia, o uso do termo “musa do crime” para referir-se a Penélope gerou controvérsia: glamourizar o crime ou expor a realidade?
A morte de uma figura tão visível coloca ao mesmo tempo: o alcance e a brutalidade da violência territorial, e o desafio da segurança em romper esses ciclos.

QUESTÕES PENDENTES E REFLEXÕES
Quem eram exatamente os alvos naquela noite? Qual era o grau de armamento da facção? A última mensagem revela que o confronto estava em andamento — “Eles tão aqui em cima de nós” —, indicando que o terreno havia sido invadido ou cercado. A operação era planejada há semanas, com inteligência acumulada e coordenação entre múltiplas forças.
Por outro lado, há uma pergunta que ecoa: em que momento a operação se converteu em campo de batalha urbano? E o que isso significa para a integridade das instituições, a vida dos envolvidos e as vidas ao redor?

UM ADEUS EM PALAVRAS
“A bala tá comendo.” Duas simples frases trocadas no celular que resumem o fim. Uma chamada de vídeo, um “oi”, o reconhecimento implícito de que não era possível escapar. A mensagem ficou ali, exibindo medo, urgência, resignação. Enquanto você lê, já não havia retorno. A amiga aguardava. A bala atinge.
Penélope deixou um rastro — de morte, de memórias, de símbolos — e também deixou perguntas.

CONCLUSÃO
O episódio que marca a morte da “Japinha do CV” revela muito mais do que o fim de uma vida jovem no meio da guerra entre facção e Estado. É um retrato da brutalidade, da visibilidade rápida e letal do crime, da dificuldade de separar linhas — entre combatente e cidadão, entre operação e massacre, entre tragédia e manchete.
E as palavras finais dela permanecem: “A bala tá comendo”. Uma frase que ecoa no silêncio que se seguiu, nas paredes crivadas, nas ruas que voltaram a viver — mas que não esquecerão.