Poucas horas antes, Amélia Santos era apenas uma mulher quebrada, sentada diante do ex-marido e sua nova esposa em um escritório gelado de advocacia. Enquanto Henrique exibia arrogância e luxo, ela assinava, em silêncio, os papéis que encerravam uma década de casamento — sem pensão, com um único pagamento de R$ 40 mil e seis meses de aluguel garantido. Era o fim de tudo. Do amor, do lar, da dignidade.

A nova esposa dele, Bianca, olhava para Amélia com um misto de pena e desprezo, adornada em bege caro e diamantes reluzentes. Henrique não escondia o desdém: dizia que Amélia pertencia ao passado, que era uma relíquia sem lugar no mundo moderno. E ela, encharcada de chuva e humilhação, saía do prédio carregando apenas uma pasta gasta e um coração despedaçado.

Foi nesse momento, na calçada fria e molhada, que o improvável aconteceu. Seu celular tocou. Um número desconhecido. Uma voz formal e profunda: “Senhora Santos, sou Alistair Fim, sócio do escritório Sullivan e Cronwell. Representamos o espólio de Cílio Blackvard. Precisamos da sua presença urgente.”

O nome soou como um eco distante. Cílio era o irmão recluso de sua avó, um homem que ela só vira uma vez na vida, há décadas. Amélia quase recusou o convite, achando que era engano. Mas foi. E ao entrar na imponente torre na Faria Lima, guiada por assistentes vestidas como executivas de outro mundo, ela soube que sua vida estava prestes a mudar — mas jamais imaginaria o tamanho da virada.

Alistair Fim a recebeu numa sala de conferências com vista para a Baía de Guanabara. Com serenidade e solenidade, revelou que Cílio havia falecido poucos dias antes. E que, em seu testamento final, deixara todo o seu império — a Eternal Red Global — para Amélia. Uma empresa privada avaliada em R$ 300 bilhões, com atuação global em tecnologia, energia, logística e mais. Um verdadeiro império escondido sob o radar.

Mas o que mais a comoveu foi a carta escrita à mão por Cílio. Nela, ele revelava que a observava de longe, que admirava sua escolha por uma vida dedicada à preservação da história e não à busca pelo lucro. Ele via nela a guardiã ideal de seu legado. Ele não lhe deixava um presente, mas um fardo. Um trono cercado de cortesãos e assassinos. Um reino onde ela precisaria lutar para manter sua posição.

O testamento impunha uma condição: para herdar tudo, Amélia teria que assumir o cargo de presidente do conselho da Eternal Red Global — e permanecer no posto por um ano inteiro. Se renunciasse ou fosse derrubada por um voto de desconfiança, perderia tudo. Cada centavo, cada ação, cada prédio.

Era um desafio absurdo para uma mulher com apenas R$ 40 mil na conta e nenhuma experiência corporativa. Mas também era uma chance de se reerguer. Amélia pensou em Henrique, em Bianca, na condescendência de quem a achava fraca, ultrapassada, descartável. E ali, diante daquele império silencioso e ameaçador, ela escolheu lutar.

“Quando eu começo?”, perguntou com a voz firme de quem, pela primeira vez em muito tempo, sabia exatamente onde queria estar.

O mundo ainda não sabe, mas está prestes a conhecer Amélia Santos. E o passado, ao qual todos diziam que ela pertencia, talvez seja justamente o que salvará o futuro de um império.